Um Dia em Jerusalém
Wilson Monteiro

Bate outra vez a lembrança da crucificação
Jerusalém é o palco do horror
E da fúria existente no coração humano.
Um jovem conduz uma
Estaca de tortura,
E nos ombros, o pecado do mundo.
Gritos e risos inflamam a
Multidão sedenta por sangue.
- É o ódio tentando vencer o amor.

Prosseguem cenas de dor
Pilatos lava as mãos
E passa à história
Como o retrato da omissão.
Judas Iscariotes, líder dos traidores,
Enforca-se.
Soldados enfurecidos divertem-se,
Despem o jovem, zombam,
Cospem, chicoteiam-no.
Meu Deus que horror!
- É ódio tentando vencer o amor.

"Quem é esse que o mundo vai crucificar?...
Quem é? ... Dizei-me!
Que crime esse jovem cometeu?"
Uma mulher chora, outra responde:
"Este é Jesus, Filho de José e Maria,
Condenado por ressuscitar os mortos,
Curar doentes e falar de amor...
Condenado por afirmar que os mansos
E os pacíficos herdarão
O reino dos céus e por despertar
A ira dos fariseus e a cólera
Da classe dominante de Israel.
Condenado por afirmar que é o caminho,
A verdade e a vida
Para os que sofrem e choram
Num mundo de violência, fome, dor.

Não pára aí o espetáculo:
A cruz está erguida,
O momento é de profunda dor.
É o homem rejeitando a luz, negando que Deus é amor.
Maria chora, os apóstolos
Estão aflitos e abatidos.
Marta relembra do Lázaro ressuscitado,
Alguém da história do Filho Pródigo
E do Sermão da Montanha.
Tomé já não olha a vida
Com os olhos da fé.
Maria Madalena observa
E a multidão sorri
Com um sorriso de Satanás.
- É ódio tentando vencer o amor!

A cruz está erguida
O jovem agoniza.
Na cabeça, uma coroa de espinhos
E acima a inscrição:
"JESUS, O REI DOS JUDEUS".
Sangue! Dor! Aflição!
O Nazareno olha para o céu...
O céu sempre será o céu
Para os que sonham com um mundo melhor.
Jesus perdoa o homem, reconhece que o
Homem não sabe o que faz,
Olha novamente para o céu e grita:
"- Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes?"
Dá o último suspiro,
A terra treme
Jesus já não padece na cruz
É o caminho, é a verdade, é a vida,
É a vitória do bem sobre o mal
E a esperança para os que sofrem e choram,
Mas que acreditam no Reino dos Céus e no Reino do Amor.

 

Wilson Monteiro é professor e poeta

Republicada em 21 de março de 2010