Último Poema
Ivo Martins Vieira Júnior

Com a caneta direcionada 
para o papel embranquecido, 
um exausto e pessimista poeta 
(que de sonhos muito viveu), 
assim compôs, desiludido, 
seu último e pesaroso poema: 
"É nesta hora funérea, 
quando das catacumbas abandonadas 
fantasmas despertam assobiando, 
e, por vezes, dando mil gargalhadas, 
que escrevo meu último poema. 
Não é um poema alegre 
como outros que me vieram à mente. 
Este é tedioso, catastrófico, nevoento, 
feito com a inspiração do lamento. 
As lúgubres palavras 
tomam a angustiante estrutura 
de um epitáfio melancólico. 
Os versos embriagados se agasalham 
nas vestes de vil morte. 
Não. Não é um poema aconchegante, 
nem tampouco serve para o deleite. 
As lamúrias são a tônica 
que soam a cada nova estrofe. 
É infeliz, trevoso e solitário, 
o meu último poema!"

Poeta Ivo Júnior

Poema publicado no ano de 1988. Livro: "Veredas do Romantismo"

Publicado em 14 dr julho de 2014