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Salgueirense Adotivo
Maurílio Sampaio Carvalho
Eu nasci no pé
da serra,
Do meu pai, do
Gonzagão,
Poeta e cantor
da terra,
Deles só
recordação,
Mas o destino
certeiro,
Mandou-me para
Salgueiro,
E aqui estou
de coração.
O seu povo
hospitaleiro,
Adotou-me como
irmão,
Isso é dom do
Brasileiro,
Que habita o
sertão,
Vivo feliz e
contente,
Por ter uma
nova gente,
Morando em meu
coração.
Quando cheguei
com a família,
Assim meio
desconfiado,
Trazendo como
mobília,
Um saco com um
nó bem dado,
Hoje pra mim
tudo é festa,
Doze netos e
uma bisneta,
Todos no peito
trancado.
A cidade era
pequena,
Mas muito
desenvolvida,
Lembro-me com
muita pena,
Das fábricas
lhe dando vida,
O curtume exportava,
Pra outros
cantos mandava,
Sola e vaqueta
curtida.
Tinha uma loja
bem sortida,
Do coronel
Veremundo,
Nela estava
bem contida,
Produtos do
outro mundo,
De tudo tinha
um magote,
Foice, tecido,
serrote,
E até saco sem
fundo.
Tinha a
casa de farinha,
Pra juventude
dançar,
O cabaré de
Bichinha,
Que o nome não
vou falar,
Era só
tranqüilidade,
Ainda sinto
saudade,
E vontade de
chorar.
Tinha o
trio Talismã,
Com Ailton
Souza cantando,
Toda a cidade
no afã,
De ver o trio
passando,
E eu lá no bar
de Fia,
Tomando
cerveja fria,
E olhando o
povo dançando.
E a fábrica
de macarrão,
Que ficava na
avenida!
Botaram num
caminhão,
Foi triste sua
despedida,
Ela foi e não
voltou mais,
Disso não
esqueço jamais,
Guardo na
mente contida.
Quem não
lembra da Uniauto,
De Dorgival
e Risomar?
Lá se comprava
um auto,
Sem sair desse
lugar,
Hoje pareço um
patife,
Tenho que ir a
o Recife,
Pra um carro
novo comprar.
Onde fica o Plaza
Hotel,
Era a pegada
de gado,
Geraldo no
seu corcel,
Por todos
admirado,
Hoje a cidade
cresceu,
Tudo
desapareceu,
Só lembrança
do passado.
Tinha o colégio
normal,
Dirigido por
uma freira,
Lá era tudo
formal,
Professores de
primeira,
Educou a
mocidade,
Hoje somente a
saudade,
Como minha
companheira.
Tinha a fábrica
de sabão,
De sapato e de
biscoito,
Tinha linha
de avião,
Para o homem
mais afoito,
Tinha o café
altaneiro,
Fechada em
pleno janeiro,
Perto do dia
dezoito.
Hoje só resta
o chalé,
Do coronel
Veremundo,
Causando
encanto até,
Ao povo de
outro mundo,
É uma obra
singular,
De beleza
exemplar,
Feita com
gosto profundo.
Se fabricava
calçado,
Da mais alta
qualidade,
Mas faz parte
do passado,
As indústrias
da cidade,
O óleo que
se usava,
Que a nossa
carne fritava,
Era óleo de
verdade.
Televisão, nem
pensar!
Rádio, se
ouvia ruim!
Notícia para
chegar,
Demorava mesmo
assim,
Mas o povo era
feliz,
Ninguém vivia
infeliz,
Quem me contou
foi Sazim.
Os safados não
esquecem,
Do caneco
amassado,
Mas hoje todos
padecem,
Pelo tempo mal
usado,
Ainda bem, não
fui lá,
O meu tempo é
bem pra cá,
Estou livre
desse pecado.
Quem queria se
livrar,
Do imposto
estadual,
Tinha que se
desviar,
Do velho
posto fiscal,
Quem recorda
ainda guarda,
O nome do Pau
do Guarda,
Que a esses
fazia mal.
Quem não lembra Gumercino,
O pai do Dr.
Romão?
Um homem de trato fino,
E de grande coração,
Ele e Severino
Sá,
Deixaram nesse lugar,
Só obra e recordação.
Quem esqueceu da vendinha,
Do nosso Antonio
Dedé,
Onde vendia sardinha,
Goiabada e picolé,
Aos poucos foi aumentando,
Muito dinheiro juntando,
Mesmo assim andando a pé.
Mestre Jaime bem
mocinho,
Com seu sax
afinado,
Nas janelas
bem baixinho,
Acordando o
bem amado,
E eu de longe
a escutar,
Em plena luz
do luar,
No meu
cantinho caladinho.
A cadeia era
pequena,
Porque não
tinha freguês,
O juiz pra dá
uma pena,
Tinha que
esperar a vez,
O povo era
bondoso,
Muito honesto,
caridoso,
Possuía
sensatez.
Outra coisa
que acabaram,
Foi o
cinema de Isná,
Parece que se
abusaram,
De ver a
sirene tocar,
Os casais
abufelados,
Uns nos outros
agarrados,
Tela que é
bom, nem pensar!
Mas minha
terra querida,
Vou amá-la até
morrer,
Quero em minha
despedida,
Ser bem lento
e não correr,
Não fazer como
o curtume,
Pra não se
tornar um costume,
Quero é sim te
ver crescer.
Como as coisas
do destino,
Tem no meio a
mão de Deus,
Suas obras no
escuro assino,
São divinos os
atos seus,
Peço ao Pai
com muito amor,
Que no chão do
meu avô,
Sepultem os
restos meus.
Maurílio Sampaio Carvalho
Publicada em 02
de Junho de 2007 |
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