Possíveis Confidências ao Vento
Ivo Martins Vieira Júnior

Depois de amanhã 
talvez eu diga ao vento 
que as flores do campo 
perderam o perfume 
em uma desvairada primavera. 
Talvez eu diga 
que o sol não é o mesmo sol, 
que o ser não é o mesmo ser, 
nem os olhos das estrelas 
reluzem como outrora. 

Depois de amanhã 
talvez eu diga ao vento 
que minha certeza é dúbia. 
Talvez eu diga que a chuva calma, 
na tarde fria, 
é o choro de alguma alma errante 
e dos sinos ecoam saudades mortas. 

Depois de amanhã 
Talvez eu diga ao vento 
que o amor é um pesadelo louco. 
Talvez eu diga 
que o rufar dos tambores 
Prenuncia uma guerra medonha 
a ser travada no âmago de meu ego. 

Depois de amanhã 
talvez eu diga ao vento 
que o meu êxtase é grave 
como um suspirar de anjo. 
Talvez eu diga que os meus olhos 
me refletem a imagem de um alvorecer, 
mas meus sentimentos 
não vão muito além 
de um indefinível crepúsculo. 

Depois de amanhã... 
Ah! Se eu dissesse ao vento!... 
E o vento escutasse a mim!...

Poeta Ivo Júnior

Publicada em 25 de Julho de 2012