Depois de amanhã
talvez eu diga ao vento
que as flores do campo
perderam o perfume
em uma desvairada primavera.
Talvez eu diga
que o sol não é o mesmo sol,
que o ser não é o mesmo ser,
nem os olhos das estrelas
reluzem como outrora.
Depois de amanhã
talvez eu diga ao vento
que minha certeza é dúbia.
Talvez eu diga que a chuva calma,
na tarde fria,
é o choro de alguma alma errante
e dos sinos ecoam saudades mortas.
Depois de amanhã
Talvez eu diga ao vento
que o amor é um pesadelo louco.
Talvez eu diga
que o rufar dos tambores
Prenuncia uma guerra medonha
a ser travada no âmago de meu ego.
Depois de amanhã
talvez eu diga ao vento
que o meu êxtase é grave
como um suspirar de anjo.
Talvez eu diga que os meus olhos
me refletem a imagem de um alvorecer,
mas meus sentimentos
não vão muito além
de um indefinível crepúsculo.
Depois de amanhã...
Ah! Se eu dissesse ao vento!...
E o vento escutasse a mim!...
Poeta Ivo Júnior