O Pagador de Promessa - A Viagem ao Canindé
Mariano Delmiro
Para quem já conhece a literatura de cordel, sabe que a
preocupação maior do autor é contar em versos, um fato
ocorrido ou não, seja ele real ou imaginário falando da
natureza, de um acidente, uma grande festa, uma briga,
um animal de estimação, um político ou qualquer outro
assunto que de alguma forma chame atenção da população
ou simplesmente de uma determinada localidade ou grupo
de pessoas.
As palavras são escritas quase que da mesma forma como
são pronunciadas, às vezes elas nem existem na língua
portuguesa mas são pronunciadas no dia-a-dia de algumas
localidades, ou colocadas apenas para formar a RIMA que
sem sobra de dúvida e parte fundamental na literatura de
cordel, portanto neste folheto o caro leitor vai
encontrar palavras e colocações erradas por que o que o
autor que mesmo é apenas contar uma história real de uma
viagem por ele realizada.
Nesta história de se ver
Coragem e disposição
Muita força de vontade
Esforço e opinião
Fazer muito sacrifício
Pra visitar são Francisco
E rezar uma oração
Por uma obrigação
E um forte compromisso
Estando em setembro
Eu fiz grande sacrifício
Não escutei nem conversa
Fui pagar minha promessa
Que devia a são Francisco
Convidei dois companheiros
Planejei esta viagem
Pra se cumprir o que diz
Precisa muita coragem
Fomos para o Canindé
Pra ver o santo de fé
E visitar sua imagem
No dia seis de setembro
Arrumemos o matulão
Botemos o pé na estrada
Com fé e disposição
Eu, Francisco e seu Zé
Quero mostrar pois quem é
Os três heróis do Sertão
Pra história ser bem certa
Tenho que deixar escrito
Puxar bem pela a memória
Fazer um verso bonito
Dizer a todos eu queria
Quem o Chico de Bia
Mariano e Benedito
Chico e filho de Salgueiro
Benedito alagoano
Combinaram esta viagem
De longe fizemos planos
Fizeram o trato e cumpriram
No dia certo partiram
se juntando a Mariano
As cinco horas da manhã
Todos três muito animados
E com a bagagem nas costa
Garrafa térmica de lado
Com água para beber
Para gozar ou sofrer
Tava tudo preparado
Enfrentar esta jornada
Sempre em direção ao norte
Viajar de dia a noite
Precisa ser muito forte
Dormir na beira da estrada
Muitas noites e não ver nada
Precisa ter muita sorte
Pois digo pro meus amigos
O que eu mais sofri
Durante esta caminhada
Nas estradas onde segui
Quando a noite ia chegando
Eu cá comigo pensando
Onde é que vou dormir
Quando era pra dormir
Sem ninguém ter ponto certo
Sem encontrar dormitório
Se dormia no deserto
Caído chuva ou neblina
Com uma coberta fina
Ficando quase descoberto
A origem da promessa
Preciso fazer ciente
Porque fiz esta obrigação
Vou explicar claramente
O que era que sofria
Tinha alguém que já sabia
Falta saber muita gente
Viajar desta maneira
É pra quem tem opinião
Eu que foi desenganado
Sofrendo do coração
Tive fé e foi valido
Não estou arrependido
Cumpri minha obrigação
Quando eu tinha trinta anos
Morando mesmo em Salgueiro
Senti que estava doente
Fui ao medico bem ligeiro
Ele então me receitou
Depois para mim falou
Foi picado do barbeiro
Um inseto perigoso
Contamina o corpo humano
Todos os diagnósticos
Salve se houver engano
A doença do barbeiro
Sangue manchado guerreiro
Só vive mais quatro ano
Para ter a realidade
Mandou de pressa fazer
Mais ou menos seis exames
E trouxesse pele ver
Fui no Recife e fiz tudo
Ele faz um novo estudo
E foi franco em me dizer
Não adianta você
Tomar nem um comprimido
Você dura quatro anos
Se for muito prevenido
Ainda resta esperança
Não faça extravagância
Que três anos é garantido
Ai meu caro leitor
Eu fiquei preocupado
Pois com esta minha idade
Eu já tinha me casado
Tinha um filho somente
Ai fiquei mais doente
Quando tive o resultado
O que podia fazer
Só pedir a providencia
Me peguei com são Francisco
Esperei com paciência
Jesus cristo me ajudou
São Francisco me curou
E acabou minha doença
Depois que fiz a promessa
Com um mês tava curado
Terminou todo nervoso
Sem ser mesmo medicado
Não estava mais doente
Com o regime somente
Que o doutor tinha mandado
A promessa eu fiz assim
Pedi a deus verdadeiro
Que se eu ficasse bom
Com meus sessenta janeiros
Pois eu fiz com muita fé
Pra eu ir pro Canindé
Saindo a pé de Salgueiro
Escutei muitos conselhos
Mais nenhum eu atendi
Que faz uma promessa
É obrigado a cumprir
Esta eu fiz e me dei bem
Não posso mandar ninguém
Eu mesmo é que tenho que ir
Saindo então de Salgueiro
Com coragem e muita fé
Chegamos perto da Solta
Foi o primeiro café
Tomamos café com queijo
Era este o meu desejo
De chegar em Canindé
Chegando a segunda parada
Esta aí foi um colosso
Porque SANTO e Diassis
Foram levar o almoço
Levaram toda família
Vejam só que maravilha
Não gastei nada do bolso
Já foi perto da divisa
Chegando no Ceará
Quando foi as três e meia
Continuamos a viajar
Nós tivemos muita sorte
No hotel de Penaforte
Cinco e meia estava lá
Nós chegamos em Penaforte
Em pleno claro do dia
Encontramos uma moça
Que a anos eu conhecia
Perguntei desta maneira
Se o senhor Romão Ferreira
Por ali ainda existia
Ela respondeu que sim
Mora na mesma fazenda
Porém eu vou lhe dizer
Quero que o senhor entenda
Pois é com todo prazer
Ele e capaz de fazer
Pra vocês uma merenda
Aí seguimos pra lá
O mesmo estava sentado
Na porta de sua casa
Em um bastão apoiado
Dei as horas ele respondeu
Um rapaz apareceu
Ficando sempre ao seu lado
Eu estava bem cansado
Então me sentei um pouco
E falei pra seu Romão
Sei que o senhor não ta mouco
Se tiver não admiro
Eu sou filho de Delmiro
E neto de Antonio Caboclo
Falei na família toda
Barros, Ferreira e tudo
Fiz aquela misturada
Destrinchei tudo a miúdo
O velho estava sentado
Se conservava calado
Parecia que era mudo
Depois resolveu falar
E disse vocês são três
Nunca andaram por aqui
Vejo pelo a primeira vez
Aí estralou os ossos
E me respondeu nosso posso
Dar um arrancho a vocês
Não acreditou em mim
Nem tão pouco confiou
Chamei os dois companheiros
Estes sim me acompanhou
Sem nenhuma alteração
Boa noite seu Romão
Peço desculpa ao senhor
Ele disse vão a frente
A esquerda da estrada
Olhe bem no meio da roça
Tem uma casa fechada
A casa e bem descoberta
Se não tiver porta aberta
Está somente encostada
Foi certo, avistemo a casa
Dormimo até quatro horas
Se levatomo bem cedo
Ao romperzinho da aurora
Tomemo um café bem quente
E logo seguimo em frente
Saimo de mundo a fora
Passamo cedo em Jatí
Quando foi no outro dia
Passomo em Brejo Santo
Cidade que eu conhecia
Andando bem animado
E muito bem confiado
No baixinho Chico de Bia
Saído de Brejo Santo
Encontramos um fazendeiro
Em uma camionete
Que vinha do Juazeiro
Parou o carro e desceu
A nós ele ofereceu
Leite pro nosso tempero
Prontamente aceitamos
Sei que é de coração
Também sei que o leite é
De boa alimentação
Pegou no balde e virou
Pois ele aí despejou
Três litros no caldeirão
Eu disse obrigado amigo
Deus lhe der felicidade
Conheci que o senhor é
Homem de boa vontade
Deus é quem vai lhe ajudar
Que nós possa se encontrar
Em outra oportunidade
Chico foi logo chamando
Benedito venha ver
Hoje vai ficar gostoso
Esse nosso dicumer
Os dois logo combinaram
Fizero um fogo e botaram
Este leite pra ferver
Benedito arrochou lenha
Chico foi quem pastorou
O fogo cresceu demais
Com a lenha que levou
Chico estava se lambendo
Quando o leite foi fervendo
A trempe se desmanchou
Benedito teve pena
Quando o leite derramou
Nem um pouquinho se quer
Ninguém não aproveitou
O chão ficou ensopado
E Chico ficou irado
Quando o caldeirão virou
Ficou somente a lembrança
E o cheiro da fumaça
Porém isto são coisas
Que na vida agente passa
E como diz o ditado
Não adianta chorar
Pelo leite derramado
Seguimo nossa viajem
Que são Francisco merece
E não trapalhou em nada
Mais leite se assim tivesse
Fomos cozinhar feijão
Fizemo um ribacao
Isto é coisa que acontece
Não teve mais nada ruim
Todo mundo era descente
Só encontramos um cidadão
Este não foi consciente
Nós pedimos uma dormida
Ele deu foi despedida
Aqui não, passem pra frente
O resto da caminhada
Foi uma tranqüilidade
Na estrada e nas fazendas
De povoado a cidade
Era um mês setembro
Ainda hoje eu me lembro
E até sinto saudade
O povo tratava a gente
Como quem já conhecia
Romeiro de são Francisco
Era a maior alegria
Pode chegarem pra cá
Venham e pode sentar
Em romeiro nós confia
Dava casa pra dormir
Banheiro pra se banhar
Café com pão e manteiga
Ofereciam um jantar
Tinha vez que nós queria
Pois naquela travessia
Não podia viajar
Enfrentamos esta jornada
Na estrada sem desvio
Com muita disposição
Porque em deus eu confio
Seguindo sempre em frente
De dia o sol era quente
A noite fazia frio
As estradas muito estreitas
Porque não foram roçadas
Sem nenhum acostamento
E bastante esburacadas
Os carros quase machucando
E as juremas furando
As mãos todas ensangüentadas
Passamos pelas cidades
Jatí, Milagre e Icó
Brejo, Barro e Iara
As pernas já dando nó
Eu já ia com cansaço
Doendo o fio do espinhaço
E molhado de suor
No Icó chegamos cedo
Fui fazer umas comprinhas
Procurei carne de sol
Só encontrava galinha
Comprei e entregue a Zé
Depois tomamos café
Em um barraco que tinha
Chegando um pouco na frente
No campo de irrigação
Do açude Limas Campos
Vendo grande plantação
Ai lavamo a galinha
Em uma valeta que tinha
Joguemo no caldeirão
Foi botado pouco sal
Esta se perdeu todinha
Lá dentro do caldeirão
Ela ficou azulzinha
Não prestou joguemo fora
Ainda hoje buxo chora
Com saudade da galinha
Seguimos pra Iguatú
Sempre passando tangente
Porque o Chico de Bia
Sempre seguia na frente
Se encostando nas banquetas
Nos gai de jurema preta
Furando os braços da gente
Entre Icó e Iguatú
Isto eu estou lembrado
A tardinha nós chegamos
Numa fazenda de gado
Um cidadão sertanejo
Estava cortando um queijo
De freguês arrudiado
Me aproximei do barraco
O dono ai percebeu
O homem fechou a cara
Pedi água ele me deu
Vendendo seu requeijão
Porém eu lhe dei razão
Porque não só freguês seu
Eu vi ele vender
A treze mil cada quilo
Depois que bebi a água
Fiquei bastante tranqüilo
Por estar muito cansado
Fiquei bastante suado
Capaz de dar um cochilo
Quem anda na terra alheia
Pisa no chão devagar
Então eu me levantei
Fui a ele perguntar
Qual é o preço do queijo
Se tem tabela eu não vejo
Se der certo vou comprar
Me indagou ponde vai
Eu disse pro Canindé
Ta com mais de oito dias
Por aqui andando a pé
Ele nem mostrou estilo
É quatorze mil o quilo
Você compre se quiser
Com calma falei pra ele
Desculpe seu fazendeiro
Pois eu não posso comprar
Por trazer pouco dinheiro
Não se sabe o que acontece
O senhor não me conhece
Vá desculpando o romeiro
Ele então olhou pra mim
Porém nada respondeu
Balançou com a cabeça
Se levantou e gemeu
Meteu a mão na bruaca
Ligeiro puxou a faca
Tirou uma tora e me deu
Ouvi Chico e Benedito
Me chamar de xeleleu
Pois quando nós fomos saindo
Acenei com meu chapéu
Fiz um bom palavreado
Entregando ele e o gado
A todos os santos do céu
Muito obrigado amigo
Pois não mereço este tanto
Deus abençoe sua fazenda
Cubra com divino manto
Pra balança dar fiel
Eu lhe entrego a são Miguel
E ao divino espírito santo
Deus lhe der muita saúde
E faça um bom apurado
Enquanto vida tiver
Pra viver criando gado
Seja um feliz fazendeiro
Se precisar do romeiro
Conte com o seu criado
O homem ai se abriu
Veja como aconteceu
Foi uma troca de bola
Veja só como se deu
Pois o direito era dele
Eu agradeci a ele
E ele me agradeceu
Porém quando fui saindo
E ele me acompanhando
Eu dizendo as coisas a ele
E ele só me perguntando
Palestrei com o fazendeiro
Dei maçada aos companheiros
Que estava ali me esperando
Os colegas na estrada
Me esperando pra ir
O homem me empalhando
Sem querer deixar sair
Mais um pouco demorei
Porem os dois encontrei
Se acabando de rir
Os dois tava me esperando
De sorrir estavam triste
Nem um dos meu companheiros
Com fé em deus não desiste
Disseram que falei tanto
Que até falei em santo
Que lá no céu não existe
Aí seguimos a viagem
No sertão do Ceará
Chegando um pouco a frente
Fomos fazer o jantar
O queijo trouxe alegria
Porque o Chico de Bia
Fez café pra nos tomar
Quero falar um pouquinho
Sobre a alimentação
Era o lanche preferido
Rapadura, ovo e pão
Arroz nunca nos faltou
Por isso quem suste ntou
Foi somente o rubacão
Quarenta e um rubacão
Nós comemos consciente
Mais ou menos em vinte dias
Eu contei ligeiramente
Eu, Chico e Zé Benedito
Cada um prato bonito
Vinte frio vinte e um quente
Pois o reto do almoço
Sobrava para o jantar
Porque seu Zé Benedito
Se encarregava em levar
Da viagem que fiz a pé
Enquanto vida eu tiver
Tenho coisas pra contar
Dispensamos as caronas
Que muita gente ofereceu
Mesmo tando tão cansado
Mais ninguém esmoreceu
Mesmo andando em hora fria
As oito horas do dia
Vejam o que aconteceu
Numa lombada da serra
Lá perto de Iguatú
Encontramos um cidadão
Numa efe mil azul
Vinha de cara pra cima
Com o dedo na buzina
Carregada com castanha de caju
Pergunt ou bem moralista
A onde vão trabalhar
Eu tenho muito serviço
E dinheiro pra pagar
Era num lugar deserto
Eu aí cheguei pra perto
E comecei a conversar
Bom dia meu cidadão
Sei que é um moço honrado
Não podemos trabalhar
Porque estamos apressados
Para encurtar a conversa
Vamos pagar uma promessa
Desde já teja avisado
Vamos para o Canindé
Aqui mesmo neste estado
Vamos com mais de dez dias
Já tamos estropiados
Não leve a mau meu patrão
Falei com educação
Lhe disse muito obrigado
Ele levantou a cabeça
Eu ouvi ele falar
Tão pensando que eu
Não tenho com que pagar
Ainda vem com conversa
Depois que apareceu promessa
Ninguém mais que trabalhar
Zé Benedito ouviu tudo
Na hora ficou calado
Nã o lhe respondeu nada
Pois e homem educado
Bem baixinho ouvi falar
Seu quisesse trabalhar
Não tinha me aposentado
Chegando em Iguatú
Comprei arroz e café
Fiz uma feirota boa
Bebi água e dei no pé
Fiz compra e troquei dinheiro
Junto com meus companheiros
Partimos pro Canindé
Gostamos de Iguatú
Onde tem gente educada
Telefonei pra Belmonte
Tive noticia de casa
Pois aí fiquei contente
Que duas moça descente
Me deram água gelada
Já era umas oito hora
Sem saber onde dormir
O que mais aborrecia
Era o vento Aracati
Seguimos na mesma jornada
Botamos o pé na estrada
Procurando onde dormir
Andemos ate as dez horas
Já passando da cidade
A procura de do rmida
Sem achar localidade
Tinha uma placa grande
De ferro zinco ou flande
Foi grande a felicidade
Esta placa que eu falo
Pois era toda encruzada
De madeira muito forte
Bem feita e bem escorada
Forte feito uma parede
Então nos armamo a rede
Dormimo ate madrugada
Saímos um pouco cedo
No regime acostumado
A metade da viagem
Pois nos já tinha tirado
Com a coragem e a cara
Partimos pra Acopiara
Mesmo estando estropiado
Dormimos perto da rua
Na casa dum cidadão
Por ele bem recebido
É um homem de ação
Um distinto fazendeiro
Emprestou um candeeiro
E um fabuloso galpão
Pois quando a pessoa é boa
Trata bem e mostra raça
Sempre procura agradar
A todo mundo que passa
Se conhece pela cara
Saímos de Acopiara
Fomos dormir em Monbaça
Logo depois de Monbaça
Fomos pra outra cidade
Por nome Minerolandia
Foi nossa felicidade
Aí ninguém passou mal
Na casa paroquial
Dormimos bem a vontade
Fomos bem atendidos
Por um outro cidadão
Por nome de seu Moises
Homem de bom coração
Ofereceu até comida
Deu uma boa dormida
Já vi homem de ação
Partimos pra Pedra Branca
Lugar de água salgada
Lá descasemos um pouquinho
Sentado numa calçada
Compremos café e pão
Botamos no matulao
Seguimos nossa jornada
Passamos em Pedra Branca
Já era depois das três
Da tarde do dia quinze
Ou do dia dezesseis
Neste dia foi colosso
Fomos cuidar de almoço
Na casa de Antonio dos Reis
Este trator bem da gente
Com a maior alegria
Armou rede fez café
Mandou buscar água fria
Cuidou de tudo ligeiro
Pra conversar com romeiro
Eu converso noite e dia
Ele disse eu trato bem o romeiro
Que vai para o Canindé
Porque também sou romeiro
Uma vez eu fui a pé
Pois alcancei uma graça
Todo romeiro que passa
Dou valor e tenho fé
Seu Antonio é gente boa
Não conta muita vantagem
É um homem de ação
Demonstrou muita coragem
É uma pessoa franca
Saímos de Pedra Branca
Fomos para Boa Viagem
Nesta noite nos dormimos
Já bem pertinho da rua
Andemos pouco de noite
Não tinha clarão da lua
Numa casinha a beira da estrada
Saímos de madrugada
E a viagem continua
Não falo só em dormir
Porque isto e natural
Também o leitor não sabe
Se passamos bem ou mal
Se for contar miudim
Dizer tim tim por tim tim
Dar cem folhas de jornal
Dar um romance sem fim
Aborrece a quem vai ler
Pois tenho que resumir
Para melhor entender
Todo pensamento é pouco
Termino ficando louco
Não posso mais escrever
Chegando em Boa Viagem
Era um dia bem cedinho
Estava desanimado
Andando devagarzinho
Era maior sacrifício
Só pensando em são Francisco
Achando longe o caminho
Eu querendo esmorecer
Depois de Boa Viagem
Quando passei na cidade
Que vi a quilometragem
Cem quilômetros que faltava
Aí meu deus onde eu tava
Que quis me faltar coragem
Botei o pé na estrada
Criei mais animação
Me peguei com são Francisco
Rezei uma oração
And ando nas horas frias
Deus na frente e paz na guia
E a nossa proteção
Cem quilômetros que faltava
Pra nós tirar em dois dias
Que era a sexta e o sábado
Estudei como fazia
Cansado de fazer pena
Partimos pra Madalena
Andando de noite e dia
Não armemos mais as redes
Nem eu nem os companheiros
Vamos ter mais fé em deus
Que nós chega mais ligeiro
Se sentava pelo chão
Por cima do matulao
Em qualquer pé de barreira
Andando sempre a noite
Parando de madrugada
Se demorava um momento
Dava um cochilim de nada
Quase sem se alimentar
A vontade de chegar
Era o que mais desejava
Chegamos então em Campos
Todos com cara de choro
Pois do jeito que nós ia
Não guentava desaforo
Capaz de dar agonia
Dos pé s de Chico de Bia
Já ia largando couro
O leitor tem que saber
Quantas cidades e que tem
De Salgueiro a Canindé
Eu conheço muito bem
São todas arborizadas
As que se ver da estrada
Quando vai e quando vem
Sendo a ultima campos
Pra chegar no Canindé
Porém eu falei de todas
E já disse como é
De povoada a cidade
Eu dou toda liberdade
Vá lá como eu fui a pé
Depois que passamos em Campos
Fizemos um refeição
Só faltava dois quilômetros
Foi grande a satisfação
Saímos na maior calma
Alegrou até alma
Quanto mais o coração
De longe quando avistei
A igreja de são Francisco
Foi a maior alegria
Não pisei fora do risco
Vi os fogos na novena
Pois vi que valeu a pena
Fazer este sacrifício
Alegria foi tão grande
De emoção quase chorei
Só deus e nossa senhora
Sabe como eu fiquei
Foi este o maior prazer
Sendo capaz de dizer
Minha promessa eu paguei
Entramos porém na cidade
Cansado e muito contente
Não passamos outras praças
A da igreja somente
Tava iniciando a festa
Só se ouvia a palestras
Porque tinha muita gente
Fomos pra casa de rancho
Onde ficamos hospedados
Pois tinha gente demais
Chegando de todo estado
E esta a minha esperança
Ai bateu a lembrança
Dos que aqui tinham ficado
Assim passamos dos dias
Do rancho para a matriz
Acertei meu compromisso
Mais ou menos como eu fiz
Pra igreja ia com pressa
Paguei a minha promessa
Me senti muito feliz
Toda noite ia ao terço
Que rezava a joelhado
Bem pertim de são Francisco
No altar bem enfeitado
Com luz fina transparente
Porém tinha muita gente
Fiquei muito admirado
Na igreja de são Francisco
Tem missa de hora em hora
Por ser muito milagroso
Vem muita gente de fora
E muito linda a cidade
E sai foi com saudade
No dia que vim embora
Aos vinte e dois de setembro
Voltamos para Salgueiro
No carro de Antonio Mandu
Que é bom camioneiro
E também não é nervoso
Para ir foi vagaroso
Mais pra volta foi ligeiro
Paguei a minha promessa
Como a deus eu prometi
580 quilômetros a pé
Só eu sei o que sofri
Do Salgueiro ao Ceará
Pra quem não acreditar
Pegue a trena e vá medir
Eu fui ao Canindé
Não foi por causa da festa
Antecipei a viagem
Para voltar mais depressa
Graças a deus foi em paz
Já fiz e não faço mais
Uma promessa como essa
Posso até fazer promessa
Mais não para ir a pé
São Francisco e poderoso
E eu tenho muita fé
Se deus não mudar meu plano
Com meus oitenta anos
Vou de novo ao Canindé
Se tiver com toda idéia
E tudo bem controlado
Se não tiver caducando
Tendo no bolso um trocado
Quero ir com a família
Vejam só que maravilha
Indo bem acompanhado
Quero ir com fé em deus
Quero ser bem atendido
Quero rezar pra são Francisco
Quero ir bem prevenido
Quero que deus me ajude
Quero ter muita saúde
Quero ser bem sucedido
Agradeço aos meus amigos
Por terem me acompanhado
Chico e Zé Benedito
A vocês muito obrigado
Peç o desculpa por tudo
Se eu fizer outra dessa
Vocês são meus convidados
Esta historia meus amigos
Não e romance inventado
Pois tudo isto e certeza
E caso realizado
Deus esta me ouvindo
Se caso estiver mentindo
Tenho quer ser castigado
Do verso peço desculpa
Do meu fraco português
Pra escrever eu passei
Mais ou menos quatro mês
O resto só pra depois
Comecei em noventa e dois
Findei em noventa e três
Me lembro de são Francisco
Adorado e milagroso
Rezei muito e tenho fé
Inda é mais poderoso
Andei bastante a pé
No sertão do Canindé
Onde o povo e amoroso
Mariano Delmiro
Obs: o autor deste
folheto escreve apenas como passa tempo.
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA.
SÃO JOSÉ DO BELMONTE, 10/02/1993.
Publicada em 30 de Janeiro de de 201
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