O Trem de Propriá
Emissael Alves de Barros

Seu doutor me arresponda
Porque chove e faz sol,
Chove tanto no sul
Tem tanta seca no norte?
Quanta gente anda de carro
E eu a pé vou e venho
Quando o inverno é bom
Pego o trem de Propriá.

Seu doutor que coisa boa!
Eu e minha véia deitada
Me dando cafuné
Doze meninos dormindo
Em cama, em rede e no chão
Se há vida tão boa
Fique no meu lugar
E sinta o que é coisa boa.

Seu doutor me diga logo
Se quer ser assim como eu
Vivo numa fartura danada
Fartando um pouco pro nada
Já até penso morar na rua
Só não aparto da minha véia
Nem da minha criançada
Veja o trem de Propriá.

Meninos de bucho cheio
De tantas lombrigas que tem
Mulher da cintura fina de magra
Triste porque não tem dentes
Mais sou feliz e contente
Não sei de tudo quase nada
Veja você viajando
Nesse trem de Propriá.

Doutor
Acho que não me conhece
Mas gostaria de saber
Onde foi que você nasceu?
Mas doutor!
Vi que não era estranho
Cheguei hoje da sua terra
No trem de Propriá.

Emissael Alves de Barros
Poeta salgueirense

 
Publicada em 30 de Março de 2010