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Lamentos de Um Açude
Maurílio Sampaio Carvalho
Já fui açude afamado,
Era o maior do sertão,
Sempre era aclamado,
Por causa da irrigação,
Dava alegria ao meu povo,
Era feijão, milho novo,
Pra minha satisfação.
Hoje a parede quebrou,
Toda água foi embora,
Somente lama restou,
Diga-me, o que faço agora!
Choro triste, desolado,
Sem um peixe ao meu lado,
Pois se foram rio afora.
Quem fui eu, quem hoje sou,
Como o destino é cruel,
Vejam o estado que estou,
Por isso sou um revel,
Minha água acabou,
O povo me abandonou,
Sou traste jogado ao léu.
Quando parede eu tinha,
No inverno era alegria,
Toda a moçarada vinha,
Tomar banho todo dia,
Hoje só desesperança,
De carregar na lembrança,
Os corpos lindos que eu via.
Nas enchentes era algazarra,
Era peixe em abastança,
Era motivo de farra,
Para idoso e criança,
Todos comiam o pirão,
De peixe com rubacão,
Era grande a festança.
Só uma coisa no inverno,
Me deixava cabisbaixo,
Era pra mim um inferno,
Lavar corpo de um macho,
Mas eu ficava feliz,
Por ver o suor do infeliz,
No sangrador, rio abaixo.
No inverno a mulherada,
Vinha me ver todo dia,
Todas usavam animada,
Minha água limpa e fria,
Mas as águas do riacho,
Desceram de rio abaixo,
Levando minha alegria.
Quando a parede quebrou,
Foi grande a decepção,
Como agora nada sou,
Eu fiquei na solidão,
Só porque não tenho água,
Vivo sofrendo a mágoa,
Ninguém me dá atenção.
Nas chuvas do meu sertão,
As minhas águas sangravam,
Sorria o meu coração,
Ao ver que os peixes nadavam,
Hoje o velho sangrador,
Só me causa pranto e dor,
E as lágrimas seu solo lavam.
A aridez ressecou,
O solo do meu porão,
O sol quente evaporou,
Toda a água do sertão,
Sangrar que é bom já não vejo,
E por causa desse desejo,
Quem sangra é meu coração.
Maurílio Sampaio Carvalho
Publicada em 24 de Fevereiro de 2007 |
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