Para Ivanildo Vila Nova
Vejo Deus lá no céu
Num gesto tira o chapéu
Para ele aqui no chão
No reino da criação
Com força, canto e precisão!
Fazer o mundo revirar
Joga águas pela terra
Faz a terra cobrir mar
Faz o mar virar sertão
Faz o sertão virar mar
Ele solidifica e dilui
E é assim que o verso sai
Desse jeito a rima flui.
No poder que deus lhe deu
Na hora que o concebeu
Deu-lhe o dom de imaginar
Para ele na canção
Com força na expressão
No seu canto de alterar
Muda o mundo num segundo
Faz o tempo endoidar
Faz o dia virar noite
E faz a noite clarear
Ele tira e inclui
E é assim que o verso sai
Desse jeito a rima flui
É rico dicionário sua
mente
Na palavra de um repente
No choro de não chorar
É ele na representação
No canto e na discussão
Tem verso de encorajar
Desafia o seu parceiro
Do amigo faz inimigo
Do primeiro ao derradeiro
E depois lhe dá abrigo
Ele sobe e cai
Desse jeito a rima flui
E é assim que o verso sai
Tem visão! É um futurista
Fala o que não tá na vista
Tem o dom de ir além
É ele com sua visão
Não vai errar na intuição
Na reza e na oração
Na transformação também
Faz ateu virar um crente
É mágico! É transcendente
Faz pecador virar pagão
Ele aumenta e diminui
E é assim que o verso sai
Desse jeito a rima flui
Se o jogo fosse com bola
No pé precisaria de cola
Mas o jogo é de criar
A palavra é de repentista
Na língua do equilibrista
No verso a rima é rimar
Palavra sem som é letra
Poeta sem voz é poema
Inventa som e fonema
Faz a rima imaginar
Ele soma e distribui
E é assim que o verso sai
Desse jeito a rima flui
Homem vira até mulher
Se ele rimar faz o que quer
Faz chover sem se molhar
No poder da mutação
No jogo da enrolação
Na cegueira e no olhar
Iludindo a ilusão
Tem no campo da visão
Um céu de transformação
Faz a viola violar
Ele chega e vai
Desse jeito a rima flui
É assim que o verso sai
Hélio Ferreira