A luz vermelha foi acesa.
No ponto de largada,
uns após outros,enfileirados,
pilotos se posicionam
formando uma procissão motorizada.
Tal qual cães rosnentos
em acirrada disputa,
os estrídulos motores roncam.
No entanto, imóvel,estática,
a plateia silencia.
Dentro dos macacões
há corpos em transe,
e pulsam corações de homens.
As curvas do autódromo
são como as curvas da vida.
A luz verde foi acesa.
Os pilotos aceleram e partem
em tresloucada correria.
A pista é um campo de batalhas.
Ouvem gritos, assobios, aplausos...
Os carros fumegam,
devoram o asfalto sinuoso.
Foi dada a primeira volta...
Mais uma... e outras voltas mais.
Os retardatários insistem.
- Por que desanimar,
se o mundo também dá muitas voltas?
O líder passa as marchas
e reza, e treme, e sua em demasia.
O combustível é sangue
que evapora paulatinamente.
O box, os pneus, o cronômetro,
o olhar grave e apreensivo
nas frestas do capacete...
Só resta uma volta.
A perseguição é indômita.
Os carros voam, ofegam...
A plateia sorri aliviada:
- No "podium" há um campeão que chora
e toma banho de champanhe!
Escrevi esse poema há poucos meses da trágica morte
do nosso inesquecível herói Airton Senna.
Poeta Ivo Júnior