Curvas da Vida
Ivo Martins Vieira Júnior

A luz vermelha foi acesa. 
No ponto de largada, 
uns após outros,enfileirados, 
pilotos se posicionam 
formando uma procissão motorizada. 
Tal qual cães rosnentos 
em acirrada disputa, 
os estrídulos motores roncam. 
No entanto, imóvel,estática, 
a plateia silencia. 
Dentro dos macacões 
há corpos em transe, 
e pulsam corações de homens. 
As curvas do autódromo 
são como as curvas da vida. 
A luz verde foi acesa. 
Os pilotos aceleram e partem 
em tresloucada correria. 
A pista é um campo de batalhas. 
Ouvem gritos, assobios, aplausos... 
Os carros fumegam, 
devoram o asfalto sinuoso. 
Foi dada a primeira volta... 
Mais uma... e outras voltas mais. 
Os retardatários insistem. 
- Por que desanimar, 
se o mundo também dá muitas voltas? 
O líder passa as marchas 
e reza, e treme, e sua em demasia. 
O combustível é sangue 
que evapora paulatinamente. 
O box, os pneus, o cronômetro, 
o olhar grave e apreensivo 
nas frestas do capacete... 
Só resta uma volta. 
A perseguição é indômita. 
Os carros voam, ofegam... 
A plateia sorri aliviada: 
- No "podium" há um campeão que chora 
e toma banho de champanhe!

Escrevi esse poema há poucos meses da trágica morte do nosso inesquecível herói Airton Senna.

Poeta Ivo Júnior

Publicada em 21 de outubro de 2013