Amanhã, quando eu partir,
deixarei os meus anjos.
Sentirei uma enorme saudade.
Saudade de pessoas, de animais,
de objetos, de melodias
e de alguns poemas
que já nem os lembro mais.
Viajarei silenciosamente,
assim como o fluir de um riacho
que não encontra obstáculos
ao longo de seu plácido percurso.
Levarei na bagagem
apenas uma coisa:
essa minha alma tão meiga,
tã o sofrida e inconstante.
Seguirei sorrindo e chorando,
talvez sob uma chuva
de espumas perfumadas;
talvez envolto em luzes indecifráveis;
talvez tocando um violino imaginário;
talvez despojado de tudo.
Amanhã, quando eu partir,
deixarei os meus sonhos,
os meus poemas e os meus anjos.
Outros sonhos (quem sabe?)
virão ao meu encontro e eu, por certo,
não os descartarei.
Tudo me será audível e incomum.
Não hesitarei, apenas prosseguirei
a minha caminhada sem temer
esse mundo arquitetado
na imaginação dos poetas.
Poeta Ivo Júnior