Abraçado com Maria
Emissael Alves de Barros

A seca era tirana

O cachorro magro nem latia

A cacimba seca torrada

Do gado só a ossada

Meu louro triste não falava

O alazão fraco nem corria

 

A comida quase acabando

Os lamentos todos os dias

Os meninos já magros

A mulher só a barriga

Dentro da casa singela

Pegava-me com todos os santos

 

Saía o dia entrava a noite

Nem uma promessa de chuva

Já estava quase indo embora

Sem despedir de Maria

Mas quando olhava os filhos

O coração se partia

 

No vaso ainda tinha feijão

Arroz na casca café em grãos

De dez a dose galinhas

Um pouco de coragem e fé

E uma panela de barro

Para fazer um pirão

 

Na madrugada a chuva

De manhã a cacimba cheia

O louro cantando o bendito

Os guris alegres pulando

E eu agradecendo a Deus

Abraçado com Maria

Emissael Alves de Barros
Poeta salgueirense.

Publicada em 20 de Março de 2012