Quando a porta se fechou,
você não acenou para a noite,
mas a sombra pavorosa de um fantasma
seguiu os seus passos vacilantes.
Quando a porta se fechou,
dentro de você não era mais carnaval.
Lá fora, nas curvas da estrada incerta,
alguém gritou seu nome.
Quando a porta se fechou,
você não quis abrir a janela
e procurar a sua estrela predileta.
Diante do espelho você chorou,
depois riu e achou o gesto banal.
Quando a porta se fechou,
você esqueceu de ligar a televisão
e assistir a um filme qualquer.
Você não pôde fumar,
pois o cigarro já havia acabado.
Quando a porta se fechou,
o mundo tornou-se monótono.
Você era como um velho poema
esquecido no fundo de um baú.
Quando a porta se fechou,
você não sabia a quem amar ou odiar
com ardência e loucura.
Você sentou-se à mesa para jantar,
todavia sua fome era outra.
Quando a porta se fechou,
você sentiu um cansaço na alma,
e o gemido que você ouvia
era o lamento de um coração sem coração.
Quando a porta se fechou,
ninguém sabia que você estava lá dentro...
porque a porta se fechou.
Poeta Ivo Júnior