A Porta
Ivo Martins Vieira Júnior

Quando a porta se fechou, 
você não acenou para a noite, 
mas a sombra pavorosa de um fantasma 
seguiu os seus passos vacilantes. 

Quando a porta se fechou, 
dentro de você não era mais carnaval. 
Lá fora, nas curvas da estrada incerta, 
alguém gritou seu nome. 

Quando a porta se fechou, 
você não quis abrir a janela 
e procurar a sua estrela predileta. 
Diante do espelho você chorou, 
depois riu e achou o gesto banal. 

Quando a porta se fechou, 
você esqueceu de ligar a televisão 
e assistir a um filme qualquer. 
Você não pôde fumar, 
pois o cigarro já havia acabado. 

Quando a porta se fechou, 
o mundo tornou-se monótono. 
Você era como um velho poema 
esquecido no fundo de um baú. 

Quando a porta se fechou, 
você não sabia a quem amar ou odiar 
com ardência e loucura. 
Você sentou-se à mesa para jantar, 
todavia sua fome era outra. 

Quando a porta se fechou, 
você sentiu um cansaço na alma, 
e o gemido que você ouvia 
era o lamento de um coração sem coração. 

Quando a porta se fechou, 
ninguém sabia que você estava lá dentro... 
porque a porta se fechou. 

Poeta Ivo Júnior

Publicada em 14 de janeiro de 2014