TOC -
Transtorno Obsessivo Compulsivo
Agradeço aos leitores desta página como também
do Portal Salgueiro pelos elogios e pelos
e-mails recebidos pedindo assuntos ligados ao
transtorno mental. Espero que este assunto torne
vocês, caro leitores, pessoas com auto-estima.
Introdução
Sou ou não sou um portador do TOC? Eis uma
pergunta que você pode ter se feito
eventualmente. Provavelmente você ouviu em algum
programa de rádio ou TV ou leu em alguma
reportagem de jornal ou revista que lavar as
mãos seguidamente, revisar várias vezes as
portas, janelas ou o gás antes de deitar, não
gostar de segurar-se no corrimão do ônibus,
evitar usar as toalhas de mão utilizadas pelos
demais membros da sua família, não conseguir
tocar com a mão no trinco da porta de um
banheiro público, ter medo de passar perto de
cemitérios ou entrar numa funerária, de deixar
um chinelo virado, assim como outros
comportamentos semelhantes, podem, na verdade,
constituir sintomas do chamado transtorno
obsessivo-compulsivo ou TOC. E você deve ter
ficado com dúvidas quanto a ser ou não um
portador.
Medos e preocupações fazem parte do nosso
dia-a-dia. Aprendemos a conviver com eles
tomando certos cuidados. Fechamos as portas
antes de deitar, lavamos as mãos antes das
refeições ou depois de usar o banheiro,
desligamos o celular antes da sessão de cinema
ou verificamos periodicamente o saldo bancário
de nossa conta. Esses mesmos comportamentos e
preocupações, entretanto, podem se tornar
claramente excessivos, quando repetidos inúmeras
vezes em um curto espaço de tempo e quando
acompanhados de grande aflição. É comum, ainda,
pelo tempo que tomam, que comprometam as rotinas
e o desempenho no trabalho. Isso configura o
que, de forma convencional, chamamos de
obsessões ou compulsões, sintomas
característicos de um transtorno bem mais comum
do que se imagina, o TOC.
O que é o TOC e quais são os seus sintomas?
O TOC é um transtorno mental incluído pelo
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais da Associação Psiquiátrica Americana
(DSM-IV) entre os chamados transtornos de
ansiedade. Manifesta-se sob a forma de
alterações do comportamento (rituais ou
compulsões, repetições, evitações), dos
pensamentos (obsessões como dúvidas,
preocupações excessivas) e das emoções (medo,
desconforto, aflição, culpa, depressão). Sua
característica principal é a presença de
obsessões: pensamentos, imagens ou impulsos que
invadem a mente e que são acompanhados de
ansiedade ou desconforto, e das compulsões ou
rituais: comportamentos ou atos mentais
voluntários e repetitivos, realizados para
reduzir a aflição que acompanha as obsessões.
Dentre as obsessões mais comuns estão a
preocupação excessiva com limpeza (obsessão) que
é seguida de lavagens repetidas (compulsão). Um
outro exemplo são as dúvidas (obsessão), que são
seguidas de verificações (compulsão).
O que são obsessões?
Obsessões são pensamentos ou impulsos que
invadem a mente de forma repetitiva e
persistente. Podem ainda ser imagens, palavras,
frases, números, músicas, etc. Sentidas como
estranhas ou impróprias, as obsessões geralmente
são acompanhadas de medo, angústia, culpa ou
desprazer. O indivíduo, no caso do TOC, mesmo
desejando ou se esforçando, não consegue
afastá-las ou suprimi-las de sua mente. Apesar
de serem consideradas absurdas ou ilógicas,
causam ansiedade, medo, aflição ou desconforto
que a pessoa tenta neutralizar realizando
rituais ou compulsões, ou através de evitações
(não tocar, evitar certos lugares).
As obsessões mais comuns envolvem:
-
Preocupação excessiva com sujeira, germes ou
contaminação
-
Dúvidas
-
Preocupação com simetria, exatidão, ordem,
seqüência ou alinhamento
-
Pensamentos, imagens ou impulsos de ferir,
insultar ou agredir outras pessoas
-
Pensamentos, cenas ou impulsos indesejáveis
e impróprios, relacionados a sexo
(comportamento sexual violento, abusar
sexualmente de crianças, falar obscenidades,
etc.)
-
Preocupação em armazenar, poupar, guardar
coisas inúteis ou economizar
-
Preocupações com doenças ou com o corpo
-
Religião (pecado, culpa, escrupulosidade,
sacrilégios ou blasfêmias)
-
Pensamentos supersticiosos: preocupação com
números especiais, cores de roupa, datas e
horários (podem provocar desgraças)
-
Palavras, nomes, cenas ou músicas intrusivas
e indesejáveis
O que são compulsões ou rituais?
Compulsões ou rituais são comportamentos ou atos
mentais voluntários e repetitivos, executados em
resposta a obsessões, ou em virtude de regras
que devem ser seguidas rigidamente. Os exemplos
mais comuns são lavar as mãos, fazer
verificações, contar, repetir frases ou números,
alinhar, guardar ou armazenar objetos sem
utilidade, repetir perguntas, etc. As compulsões
aliviam momentaneamente a ansiedade associada às
obsessões, levando o indivíduo a executá-las
toda vez que sua mente é invadida por uma
obsessão. Por esse motivo se diz que as
compulsões têm uma relação funcional (de aliviar
a aflição) com as obsessões. E, como são bem
sucedidas, o indivíduo é tentado a repeti-las,
em vez de enfrentar seus medos, o que acaba por
perpetuá-los, tornando-se ao mesmo tempo
prisioneiro dos seus rituais.
Nem sempre as compulsões têm uma conexão
realística com o que desejam prevenir (p ex.,
alinhar os chinelos ao lado da cama antes de
deitar para que não aconteça algo de ruim no dia
seguinte; dar três batidas em uma pedra da
calçada ao sair de casa, para que a mãe não
adoeça). Nesse caso, por trás desses rituais
existe um pensamento ou obsessão de conteúdo
mágico, muito semelhante ao que ocorre nas
superstições.
Os dois termos (compulsões e rituais) são
utilizados praticamente como sinônimos, embora o
termo “ritual” possa gerar alguma confusão, na
medida em que praticamente todas as religiões e
diversos grupos culturais adotam comportamentos
ritualísticos e contagens nas suas práticas:
ajoelhar-se três vezes, rezar seis ave-marias,
ladainhas, rezar 3 ou 5 vezes ao dia, benzer-se
ao passar diante de uma igreja. Existem rituais
para batizados, casamentos, funerais, etc. Além
disso, certos costumes culturais, como a
cerimônia do chá entre os japoneses, o cachimbo
da paz entre os índios, ou um funeral com honras
militares, envolvem ritos que lembram as
compulsões do TOC. Por esse motivo, há certa
preferência para o termo “compulsão” quando se
fala em TOC.
As compulsões mais comuns são:
-
De lavagem ou limpeza
-
Verificações ou controle
-
Repetições ou confirmações
-
Contagens
-
Ordem, simetria, seqüência ou alinhamento.
-
Acumular, guardar ou colecionar coisas
inúteis (colecionismo), poupar ou
economizar.
-
Compulsões mentais: rezar, repetir palavras,
frases, números.
-
Diversas: tocar, olhar, bater de leve,
confessar, estalar os dedos.
Compulsões Mentais
Algumas compulsões não são percebidas pelas
demais pessoas, pois são realizadas mentalmente
e não mediante comportamentos motores,
observáveis. Elas têm a mesma finalidade:
reduzir a aflição associada a um pensamento.
Alguns exemplos:
-
Repetir palavras especiais ou frases
-
Rezar
-
Relembrar cenas ou imagens
-
Contar ou repetir números
-
Fazer listas
-
Marcar datas
-
Tentar afastar pensamentos indesejáveis,
substituindo-os por pensamentos contrários.
Compulsões mais comuns
Preocupação com sujeira, contaminação, medo de
contrair doenças e lavagens excessivas
Uma das obsessões mais comuns é a preocupação
excessiva com sujeira ou contaminação, seguida
de compulsões por limpeza, lavações excessivas e
da necessidade de evitar tocar em objetos, ou de
freqüentar lugares considerados sujos ou
contaminados. Manifesta-se sob diversas formas,
como as relacionadas a seguir:
-
Lavar as mãos inúmeras vezes ao longo do
dia;
-
Lavar imediatamente as roupas que tenham
sido usadas fora de casa (mesmo limpas);
-
Lavar as mãos imediatamente ao chegar da
rua;
-
Trocar excessivamente de roupa;
-
Tomar banhos muito demorados, esfregando
demasiadamente o sabonete;
-
Usar sistematicamente o álcool para limpeza
das mãos ou do corpo;
-
Lavar as caixas de leite, garrafas de
refrigerantes, potes de margarina, antes de
guardá-los na geladeira;
-
Passar o guardanapo nas louças ou talheres
do restaurante antes de servir-se;
-
Usar xampu, sabão, desinfetante ou
detergente de forma excessiva;
Evitações
Os pacientes que têm obsessões relacionadas com
sujeira ou contaminação, ou mesmo medos
supersticiosos exagerados, adotam com muita
freqüência comportamentos evitativos
(evitações), como forma de não desencadearem
suas obsessões. Esses comportamentos, se por um
lado evitam ansiedades e aflições, acabam
causando problemas que podem chegar a ser
incapacitantes, em razão do comprometimento que
acarretam à vida diária. Tais restrições são em
geral impostas aos demais membros da família o
que acaba inevitavelmente provocando conflitos.
Alguns exemplos de evitações comuns em
portadores do TOC que têm obsessões por limpeza
e medo de contaminação:
-
Não tocar em trincos de portas, corrimãos de
escadas ou de ônibus; não tocar nas portas,
nas tampas de vasos, descargas ou torneiras
de banheiros (ou usar um lenço ou papel para
tocá-los);
-
Isolar compartimentos e impedir o acesso dos
familiares quando estes chegam da rua;
obrigá-los a tirar os sapatos, trocar de
roupas, lavar as mãos ou tomar um banho
quando chegam da rua;
-
Restringir o contato com sofás (cobri-los
com lençóis, não sentar com a roupa da rua
ou com o pijama);
-
Não sentar em bancos de praça ou de
coletivos;
-
Não encostar roupas usadas “contaminadas”,
nas roupas “limpas” dentro do guarda-roupa;
-
Evitar sentar em salas de espera de clínicas
ou hospitais (principalmente em lugares
especializados em câncer ou AIDS);
-
Não usar talheres de restaurantes ou de
outras pessoas da família;
-
Não usar telefones públicos;
-
Não cumprimentar determinadas pessoas
(mendigos, aidéticos, pessoas com câncer,
etc.);
-
Não utilizar banheiros que não sejam os da
própria casa;
-
Evitar pisar no tapete ou piso do banheiro
em casa ou no escritório;
-
Não freqüentar piscinas coletivas ou tomar
banhos no mar.
Na verdade, a preocupação com sujeira, germes,
doenças e contaminação é o tema dominante nos
pensamentos e preocupações dessas pessoas. Elas
os transformam em cuidados e precauções
excessivas e impõem esses cuidados aos demais
membros da família. Uma paciente, por exemplo,
obrigava seus familiares a trocarem a roupa ou
os sapatos para entrar em casa; outra obrigava o
marido a tomar um banho imediatamente antes das
relações sexuais; uma terceira obrigava o marido
a lavar a boca antes de lhe dar um beijo ao
chegar da rua e ainda uma outra exigia que seu
filho de dois anos usasse luvas para abrir a
porta. Essas exigências causavam conflitos
constantes, o que comprometia a harmonia
conjugal e familiar.
Nojo ou repugnância
Nem sempre as evitações estão necessariamente
associadas ao receio de contrair doenças ou ao
medo de contaminação por germes ou pesticidas.
Alguns pacientes referem que evitam tocar em
certos objetos, apenas por nojo ou repugnância:
por exemplo, tocar em carne, gelatina, colas,
urina, sêmen, sem que necessariamente tenham
medo de contrair alguma doença específica, ou
que passe pela sua cabeça algum pensamento
catastrófico específico. O interessante é que
esses sintomas também podem desaparecer com o
mesmo tratamento – a terapia de exposição e
prevenção de rituais utilizada para o tratamento
dos demais sintomas do TOC.
Dúvidas, medo de falhar e necessidade de fazer
verificações
Uma das preocupações mais comuns no TOC
relaciona-se com a possibilidade de falhar e, em
conseqüência, ocorrer algum desastre ou dano (a
casa incendiar, inundar ou ser arrombada). Tal
preocupação se manifesta sob a forma de dúvidas,
necessidade de ter certeza ou intolerância à
incerteza, as quais, por sua vez, levam a pessoa
a realizar verificações ou repetições como forma
de ter certeza e aliviar-se da aflição.
Quando o sofrimento associado à dúvida é grande,
alguns portadores do TOC simplesmente se
esquivam de situações de responsabilidade.
Preferem não sentir a necessidade de realizar
verificações, evitando, por exemplo, sair por
último do local do trabalho, não sendo, assim,
responsáveis por desligar os equipamentos ou por
fechar as portas. Acredita-se que certas
características pessoais, como um senso
exagerado de responsabilidade e conseqüentemente
medo de cometer falhas, dificuldade de conviver
com incertezas, como comentamos, e um elevado
nível de exigência (perfeccionismo) desempenham
um papel importante no surgimento e na
manutenção das obsessões de dúvida e da
necessidade de executar verificações.
As verificações são geralmente precedidas por
dúvidas e preocupações com falhas e se destinam
a eliminá-las.
As verificações devem ser consideradas sintomas
de TOC quando repetidas ou quando o indivíduo
sente grande aflição caso seja impedido de
executá-las. As situações mais críticas, nas
quais o impulso de realizá-las é mais intenso
são: a hora de sair de casa, antes de deitar, ao
estacionar o carro e ao sair do trabalho.
As verificações mais comuns estão listadas a
seguir:
-
Portas e janelas antes de deitar ou ao sair
de casa;
-
Eletrodomésticos (ferro de passar, fogão,
chapinha de alisar os cabelos, TV), gás,
geladeira etc;
-
Se as torneiras estão bem fechadas, seguido
da necessidade de apertá-la (às vezes de
forma demasiada, a ponto de quebrá-la) ou de
passar a mão por baixo para se certificar de
que não está saindo nenhuma gota de água;
-
Acender e apagar novamente lâmpadas
apagadas; ligar e desligar o celular ou a TV
de novo, com receio de que não tenham ficado
“bem” desligados;
-
A bolsa ou a carteira, para certificar-se
que não faltam documentos, chaves, etc.;
-
Se atropelou ou não com o carro alguém que
passava na calçada ou ao lado, seguida da
necessidade de verificar no espelho
retrovisor ou até mesmo de refazer o trajeto
para certificar-se de que o fato não
ocorreu;
-
Se as portas e os vidros do carro ficaram
bem fechados, testando cada uma delas mesmo
vendo que os pinos de segurança estão
abaixados.
É comum que, além de fazer verificações
repetidas, os pacientes toquem com as mãos ou
olhem demoradamente os objetos (botões do fogão,
torneira do gás, portas da geladeira, lâmpadas).
Esses comportamentos não deixam de ser formas
sutis de verificação e de eliminação de dúvidas.
As compulsões associadas a dúvidas também podem
ser mentais, como reler várias vezes um texto ou
parágrafo e recitá-lo mentalmente para ver se
foi memorizado corretamente, visualizar
repetidamente uma mesma cena ou, ainda, repetir
mentalmente uma conversa para garantir que
nenhum detalhe tenha sido esquecido, revisar
várias vezes um cheque assinado para que não
contenha nenhum erro, revisar repetidamente
listas para que nada seja esquecido, etc.
“Maus” pensamentos ou pensamentos impróprios e
pensamentos supersticiosos
São comuns no TOC os chamados “maus
pensamentos”, “pensamentos ruins”, ou
simplesmente pensamentos impróprios. Eles
geralmente se incluem numa das seguintes
categorias: pensamentos agressivos de caráter
impróprio ou cenas violentas invadindo a cabeça,
chamados popularmente de pensamentos
“horríveis”; pensamentos de conteúdo sexual
impróprio; pensamentos de conteúdo religioso
blasfemo, escrupulosidade excessiva e
pensamentos “ruins”, de conteúdo catastrófico.
Eles são muito mais comuns do que se imaginava,
e eventualmente todos nós temos alguns destes
pensamentos em algum momento. É comum, por
exemplo, um adolescente imaginar-se
momentaneamente fazendo sexo com a mãe ou irmã.
Como no mesmo momento se dá conta de que “estava
pensando uma besteira”, não dá maior importância
à ocorrência de tal pensamento ou de que possa
um dia vir a praticá-lo, o pensamento ou a cena
desaparecem por si. Já o portador do TOC fica
chocado com tais cenas, que são acompanhadas de
grande aflição, interpreta sua presença como
indicativa de existir algum risco de algum dia
vir a praticá-las e tenta, sem sucesso,
afastá-las da mente. Passa ainda a vigiar os
próprios pensamentos, e, paradoxalmente quanto
mais tenta afastá-los ou quanto mais importância
der à sua presença, mais intensos eles se
tornarão.
Pensamentos, impulsos ou cenas de conteúdo
agressivo ou violento
NO TOC são bastante comuns pensamentos ou
impulsos impróprios, cenas de conteúdo agressivo
ou violento. Alguns exemplos:
-
Atirar o bebê pela janela;
-
Intoxicar o filho com venenos domésticos,
como raticidas ou gás;
-
Empurrar alguém (uma pessoa idosa, uma
criança) escadaria abaixo;
-
Dar um soco numa pessoa ao cumprimentá-la;
-
Jogar o carro em cima de um pedestre;
-
Atropelar pessoas idosas;
Como forma de diminuir a aflição e o medo que
acompanha essas obsessões, os portadores do TOC,
além de tentar afastá-las da cabeça. Além disso,
o medo de que venha um dia a praticá-los leva o
paciente a adotar medidas para impedir que
possam vir a acontecer como: colocar telas nas
janelas para evitar jogar o bebê num momento de
descontrole; evitar comparecer a eventos sociais
ou cumprimentar pessoas; checar a sacola várias
vezes para ver se não tem algum veneno com o
qual possa contaminar o filho.
Pensamentos impróprios relacionados com sexo
São comuns pensamentos, impulsos intrusivos e
impróprios ou cenas de conteúdo sexual como:
-
Fixar os olhos nos genitais de outras
pessoas;
-
Molestar sexualmente crianças;
-
Abaixar as calças ou arrancar a roupa de
outras pessoas;
-
Ter uma relação sexual com um irmão, irmã
pais, tios;
-
Violentar sexualmente uma pessoa conhecida
ou desconhecida;
-
Praticar sexo violento ou sexo perverso (p.
ex. com animais).
É importante destacar que fantasias sexuais de
conteúdo excitante e prazeroso, quando folheamos
uma revista, assistimos a uma cena ou filme de
conteúdo erótico, ou enxergamos uma pessoa
sexualmente atraente, fazem parte da nossa vida
mental, e não só devem ser consideradas normais
como representam um sinal de saúde. É importante
destacar: seu conteúdo é agradável, excitante,
provoca o desejo e, sobretudo, prazeroso. Já as
obsessões de conteúdo sexual impróprio do TOC
são acompanhadas de aflição ou angústia, são
desagradáveis, são consideradas claramente
impróprias ou antinaturais e contrariam os
próprios desejos e princípios dos seus
portadores. Por esses motivos a conseqüência
imediata, em vez do desejo, excitação ou prazer,
é a angústia a aflição, o medo e até a
depressão. Por esse motivo são adotadas medidas
destinadas a neutralizar esses sentimentos
desagradáveis como lutar contra esses
pensamentos e tentar afastá-los, ou realizar
rituais como lavar-se, confessar-se, rezar, ou
aplicar castigos corporais.
Pensamentos de conteúdo blasfemo
No TOC também são comuns pensamentos de conteúdo
considerado blasfemo pelos seus portadores
-
Cenas repetitivas praticando sexo com a
Virgem Maria ou os santos (as).
-
Cenas ou pensamentos de conteúdo sexual com
Jesus Cristo na cruz;
-
Pensar no demônio ou em “entidades” ou
divindades de outras religiões;
-
Dizer obscenidades ou blasfêmias num momento
em que todos estão em silêncio durante a
missa de domingo.
Essas obsessões são provocadoras de grande
ansiedade particularmente em pessoas religiosas.
Na religião católica em particular, os
pensamentos de conteúdo blasfemo, foram
associados à noção de pecado e eventualmente de
pecado mortal, representando um risco de
condenação ao fogo do inferno. É comum a
necessidade de confessar-se repetidamente ou de
fazer outros rituais de purificação como rezas,
banhos, lavagens ou penitências como forma de
neutralizar a aflição associada.
Obsessões ou compulsões de conteúdo
supersticioso
Todos nós temos algumas superstições, que fazem
parte da nossa cultura assim como da cultura de
todos os povos, e eram particularmente comuns
entre os povos primitivos. Não passar embaixo de
escadas, evitar cruzar com um gato preto na rua,
são atitudes que para muitos podem prevenir
azares. Bater 3 vezes na madeira dá sorte;
deixar os chinelos virados pode dar grande azar.
O número 13 é considerado por muitos um número
de azar, especialmente se o dia 13 cair em uma
sexta-feira. O número 27 é de sorte. Em outros
casos, sonhar com um número, pode representar a
possibilidade de ganhar na loteria. O que
distingue as superstições que fazem parte da
cultura, das obsessões como sintomas do TOC é a
intensidade com que se acredita nelas, o quanto
interferem na vida diária e o grau de aflição
que provocam caso sejam contrariadas.
No TOC as superstições têm alguma conecção com
objetos temidos que ficaram associados a azares
(doença, morte) e, como conseqüência, são
evitados objetos ou lugares que possam provocar
tais azares. Se você não sai de casa de forma
alguma ou se sair é com grande aflição, nos dias
que contém o número 3, o número 7, ou números
ímpares, ou necessita interromper completamente
suas atividades quando o ponteiro dos relógios
estiver ultrapassando o número 6, caso contrário
poderá ocorrer alguma desgraça, então você pode
ter as chamadas obsessões de conteúdo
supersticioso ou mágico.
Contar, repetir
Contar mentalmente é bastante comum em momentos
de ansiedade. Enquanto você espera o resultado
do vestibular no saguão da faculdade ou aguarda
na fila do banco ou na sala de recepção do seu
médico, mentalmente você passa a contar os
quadros na parede, o número de janelas do
prédio, de pessoas na fila, ou fica assoviando
repetidamente uma música. Essas contagens e
repetições são normais, porque, se você desejar,
pode interrompê-las sem ficar aflito.
Em portadores do TOC é comum a necessidade de
contar mentalmente enquanto realiza uma
determinada atividade ou de repetir certas
tarefas ou certos comportamentos: contar as
janelas dos edifícios; repetir uma reza um
número exato de vezes antes de deitar, lavar
cada lado do corpo ou escovar os dentes três
vezes, ler letreiros ou placas da rua, somar os
números das placas dos carros na rua (e
eventualmente tirar os noves fora). Outras
repetições eventualmente são realizadas num
determinado número previamente determinado. Ler
ou reler o mesmo parágrafo ou página de um
jornal ou de um livro, pôr e tirar uma
determinada peça de roupa, atar e desatar o
cadarço dos sapatos, apagar e acender a luz,
sentar e levantar da cadeira, entrar e sair de
uma peça da casa, esfregar o sabonete ou passar
o xampu no cabelo um número “X” de vezes, são
alguns exemplos muito comuns. O pensamento que
está por trás de tais contagens e repetições é
de que algo ruim poderá acontecer se tais atos
não forem executados na forma ou no número exato
de vezes ou pré-determinado, e somente
procedendo dessa maneira ritualística você
conseguirá impedir o pior. E, se por acaso se
distrai, erra a contagem ou não segue exatamente
a seqüência estabelecida, recomeça tudo, até
executar o número exato previamente
estabelecido, o que faz com que se sinta um
verdadeiro prisioneiro de seus medos e dos seus
rituais. Essas repetições podem tomar muito
tempo atrasando sua saída mais de casa ou seu
trabalho.
Compulsões por ordem,
simetria, seqüência ou alinhamento
Manter os papéis em cima da escrivaninha ou as
roupas nas prateleiras do guarda roupa numa
certa ordem é desejável. Mas quando se perde
muito tempo alinhando objetos no armário do
banheiro, os livros na estante, os pratos e
talheres na mesa, ou quando qualquer objeto fora
do lugar ou não provoca grande aflição e
desencadeando o impulso de alinhá-lo, estamos
diante de mais um típico sintoma do TOC.
Também é comum ter que realizar determinadas
tarefas numa determinada seqüência ou de acordo
com uma certa regra. Uma paciente, ao entrar em
casa, sentia-se obrigada a contar os quadros da
sala em uma determinada ordem (sempre a mesma);
uma outra se obrigava ao entrar no edifício e em
seu apartamento fazendo sempre o mesmo trajeto:
passando entre duas colunas e depois, no
apartamento, repassar na mesma ordem todas as
peças da casa; um outro paciente tinha uma
detalhada seqüência de procedimentos antes do
banho: alinhava as roupas em uma certa ordem
sobre uma banqueta, colocava o tapete de
borracha exatamente no centro do boxe e alinhava
outro tapete do lado de fora, consumindo entre
10 e 15 minutos nesse ritual.
Armazenar, poupar, guardar ou colecionar objetos
inúteis (colecionismo)
É a tendência a guardar e a dificuldade em se
desvencilhar de objetos sem valor, ou inúteis,
ou demasiados, que passam a ocupar espaços de
tal forma a causar transtornos. As pessoas que
têm obsessões e compulsões de armazenagem,
também chamadas de colecionismo, apresentam
ansiedade intensa se necessitam se desfazer de
algum objeto, mas ao mesmo tempo têm dificuldade
em classificar e organizar e se sentem bem, com
grande quantidade de coisas à sua volta.
Nós todos guardamos certos objetos que tem algum
valor afetivo. Os portadores do TOC, entretanto,
não conseguem distinguir entre objetos de valor
afetivo e lixo. Guardar papéis ou recortes de
jornais pode ser útil em algumas circunstâncias.
Porém, ter prateleiras ou até peças da casa
cheias de revistas ou jornais velhos, caixas de
sapato vazias, embalagens e garrafas de vazias,
recibos de contas vencidas e pagas há muito
tempo, roupas que não servem mais ou que estão
fora de moda, sapatos que não serão mais usados,
etc., pode caracterizar um sintoma do TOC: o
colecionismo, ou seja, a tendência a guardar e
armazenar coisas inúteis. No caso do TOC são
objetos efetivamente sem valor real. Discute-se
se os armazenadores constituem ou não um grupo
distinto de TOC, pois não respondem aos
medicamentos inibidores da recaptação da
serotonina, e respondem menos à TCC que os
portadores de outros tipos de sintomas. No livro
você encontrará um capítulo inteiro sobre o
colecionismo – o capítulo 13, no qual esse
quadro será abordado com bem mais profundidade.
Lentidão obsessiva
É comum, em portadores do TOC, a lentidão ao
executar tarefas. Essa lentidão pode ocorrer em
razão de dúvidas, repetições para “fazer a coisa
certa ou exata...” (tirar e colocar a roupa
várias vezes, sentar e levantar, sair e entrar,
etc.), verificações repetidas (trabalho, listas,
documentos, banho demorado, tempo demasiado para
se arrumar (perfeccionismo), ou do adiamento de
tarefas devido à indecisão (necessidade de ter
certeza).
Compulsão por armazenagem ou colecionismo
A compulsão por armazenagem é um sintoma bem
conhecido do TOC e é definida como a aquisição
de e a dificuldade em descartar objetos que
aparentemente não tem utilidade ou são de pouco
valor. Os pacientes portadores do TOC se
distinguem pela grande quantidade de coisas que
guardam e pelo seu apego emocional a objetos,
por terem uma enorme dificuldade em jogar fora
ou no lixo objetos que a maioria das pessoas
considera como absolutamente sem nenhuma
utilidade. O argumento para não jogá-los no lixo
é de que algum dia possam necessitar do objeto
jogado fora, que ele possa fazer falta, ou que
possa ter alguma utilidade no futuro,
perdendo-se a noção do que é razoável. A
impressão é de que eles têm um sentimento de
segurança com os objetos armazenados.
Os objetos armazenados podem ser qualquer coisa,
no entanto com mais freqüência são roupas,
revistas, jornais velhos, notas fiscais antigas,
mantimentos, embalagens vazias, trabalhos
escolares, sacolas, cartões e cartas. É comum
ainda o portador de TOC guardar ferramentas
danificadas e sem possibilidade de conserto,
aparelhos elétricos quebrados, recortes de
revistas, roupas e sapatos que não vai mais
utilizar, que deixaram de servir ou saíram de
moda, e eventualmente coisas absolutamente sem
sentido como lâmpadas queimadas, palitos de
fósforo usados, cartões telefônicos gastos. Tais
objetos ou papéis acabam ocupando espaços
enormes, além de acumular poeira e ácaros. Não
raro os objetos são guardados amontoados, na
maior desordem, seja no forro da casa, na
garagem, em armários ou até mesmo nos
corredores, muitas vezes dificultando até a
movimentação das pessoas. Com o tempo o próprio
paciente perde o controle dos objetos
armazenados, não conseguindo localizá-los, ou no
mínimo tendo grande dificuldade em localizá-los,
o que pode ser motivo de grande aflição.
Compulsão por poupar
É bastante comum também a compulsão por poupar
dinheiro, seguida de desconforto e culpa diante
de qualquer gasto, por mais insignificante que
seja. O paciente pode chegar a extremos de ser
incapaz de comprar roupas ou até mesmo
alimentos, “para não gastar”. Há um controle
rigoroso de todos os gastos, seus e dos
familiares, e uma necessidade incontrolável de
poupar. O que faz suspeitar de que se trata de
um sintoma do TOC, é o caráter compulsivo do
poupar, um elevado grau de mesquinhez destoante
da situação econômica em si, o grande sofrimento
ou aflição diante de qualquer gasto e o tempo
despendido em checagens de contas bancárias e
contagens de dinheiro. Um paciente havia
conseguido acumular na poupança uma formidável
fortuna. Certamente era uma das pessoas mais
ricas da sua cidade. Era incapaz de comprar uma
camisa para si, e quando o fazia era com grande
sofrimento, muitas reclamações e protestos “pois
ficaria mais pobre”. Tinha que ser levado à loja
forçado pela esposa. Uma outra paciente tinha
brigas freqüentes com seu marido quando esse
comprava um par de sapatos ou um tênis, mesmo
admitindo que os tênis antigos estavam furados
ou os sapatos gastos e que as compras eram mais
que justificáveis.
Estima-se que entre 18 a 31 % de todos os
portadores de TOC apresentam compulsões de
armazenagem, com os sintomas surgindo no início
da década entre os 20 e 30 anos. Não foram
notadas diferenças entre homens e mulheres. Um
outro dado interessante é a alta ocorrência do
colecionismo em familiares. Um estudo verificou
que 90% dos pacientes relatavam uma história
familiar de colecionismo e 80% haviam crescido
numa casa com algum familiar que também
apresentava os mesmo tipo de sintomas.
Entretanto outros estudos encontraram índices
bem menores e não se sabe o quanto, nesses
pacientes, uma patofisiologia ou uma
neuroanatomia distintas em relação aos demais
sintomas do TOC, ou um componente específico de
aprendizagem (ver outras pessoas guardando
coisas, ou aprender que se deve guardar as
coisas mesmo sem saber se podem ter qualquer
utilidade no futuro) influenciaram para que
surgissem os sintomas.
Características comuns dos colecionadores (FOA)
Situações que causam desconforto
-
Quando são obrigados a jogar fora ou dar
algum dos objetos que guardam ou armazenam;
-
Quando uma outra pessoa mexe nos objetos
guardados;
-
Ao deixar de guardar algo que poderia ser
necessário no futuro;
Compulsões mais comuns
-
Guardar coisas inúteis;
-
Organizar as “coleções” de uma certa forma;
-
Verificar no lixo o que outras pessoas jogam
fora;
-
Recolher objetos jogados no lixo ou
descartados por outras pessoas;
Evitações
Ambiente ao redor
Pensamentos, imagens, impulsos que provocam
desconforto
Conseqüências temidas de não guardar
Tratamento
Como comentamos o colecionismo é um dos sintomas
considerados difíceis de tratar, no TOC, não
respondendo aos medicamentos ISRS e respondendo
pouco à terapia cognitivo-comportamental. A
pouca resposta à terapia deve-se em grande parte
à ausência de motivação por parte do paciente em
buscar tratamento, pois ele se sente
confortável, seguro e sente até um certo prazer
ao lado do amontoado de objetos. Desfazer-se é
penoso, razão pela qual dificilmente irá buscar
o tratamento por si próprio. São os demais
membros da família os que mais se incomodam com
o fato de os espaços estarem tomados por coisas
inúteis e pressionam os colecionistas a buscar
tratamento. Segundo Edna Foa se a relação com
outra pessoa tem uma grande importância para o
paciente, e se a compulsão por armazenagem
compromete a continuidade da relação, o
tratamento tem mais chance de ser bem sucedido.
Mas nem sempre esse é o caso. Na maioria das
vezes a situação está cristalizada a muitos anos
e se não for por alguma razão externa (mudança
de casa ou apartamento, necessidade por razões
de saúde, nascimento de filho), o armazenador
dificilmente fará algum movimento em relação á
mudança.
Medicamentos
Compulsões de armazenagem ou colecionismo não
respondem ao tratamento padrão com medicamentos
antiobsessivos ou a resposta é muito pequena.
Terapia cognitivo-comportamental multimodal
Em casos mais graves e refratários, um
tratamento mais agressivo, envolvendo internação
hospitalar por 6 semanas e a adoção de um
enfoque chamado de multimodal, envolvendo o uso
de inibidores da recaptação da serotonina e
terapia cognitivo-comportamental intensiva,
mostrou-se efetivo. O tratamento enfocava
primariamente nas conseqüências do colecionismo
e tinha as seguintes metas: 1) criar um ambiente
de estar e espaço para trabalhar; 2) aumentar o
uso apropriado do espaço; 3) melhorar a
capacidade de tomar decisões; 4) diminuir a
procrastinação e a evitação; 5) melhorar as
habilidades organizacionais e a administração do
tempo; 6) diminuir os medos obsessivos
relacionados ao descarte de objetos; 7)
descartar objetos desnecessários; 8) diminuir as
compras e aquisições compulsivas; 9) prevenir
armazenagens futuras desnecessárias. A
reestruturação cognitiva focalizou nas crenças
relacionadas ao perfeccionismo, excesso de
responsabilidade, dúvidas sobre a memória, apego
emocional excessivo aos objetos e nas
conseqüências negativas de ter os espaços da
casa atravancados de objetos.
Para casos de intensidade leve ou moderada o
principal recurso ainda é a terapia
cognitivo-comportamental de exposição e
prevenção de rituais de acordo com as linhas
descritas a seguir. As dificuldades maiores,
como comentamos, estão relacionadas à falta de
motivação do paciente para o tratamento e o fato
de os sintomas serem ego-sintônicos (guardar
objetos o deixa tranqüilo e seguro). O problema
inicial é vencer essa dificuldade.
Vencendo o
colecionismo
Se você tem compulsão por guardar coisas
inúteis, armazenar demasiadamente comida siga os
seguintes passos:
Estabeleça uma meta realística que você de fato
quer atingir
Se você resiste a por fora todas as
quinquilharias que acumulou durante anos, em vez
de pensar que você terá que se livrar de todas
as suas coisas, comece estabelecendo objetivos
com os quais concorda e que seriam úteis para si
e para os seus familiares: ser menos indeciso,
viver num ambiente mais organizado e menos
obstruído, ter um ambiente de estar mais
agradável, um espaço de trabalho mais organizado
e menos obstruído, reduzir rituais
(verificações, contagens) e evitações, etc.
Faça uma avaliação do seu problema de
armazenagem
Responda a algumas das seguintes perguntas:
Quanto a sua casa está atravancada?
Quais as peças?
Que grau de desconforto o problema causa para
você e para sua família?
Qual o grau ou nota você daria para o grau de
desordem da sua casa?
Que coisas você armazena?
Quais são as razões para guardar cada objeto?
Você tem algum critério para organizar os seus
objetos?
Quanto o seu problema afeta a sua relação com a
sua família?
Prevenção de rituais de verificação e contagens
Como foi sugerido em relação a outros rituais
identifique as situações nas quais você é levado
a verificar se os objetos estão no lugar ou a
fazer contagens ou listas para certificar-se de
que nada foi extraviado, e de que você sabe onde
está cada coisa. Abstenha-se de fazer tais
controles.
Estabeleça uma moratória para novas aquisições.
Estabeleça com você mesmo um compromisso de que
não irá adquirir mais nenhum item enquanto não
atingir os seus objetivos. Não compre nenhum
objeto cuja compra seja imprescindível; não
fique com objetos ou roupas que seus amigos
estão descartando, e dos quais você não
necessita. Evite por algum tempo os ferros
velhos e briques se você não está necessitando
de nada objetivamente. Isso o auxiliará a
resolver o problema mais rapidamente. Não compre
nada só porque você poderá necessitar no futuro.
Faça
um plano de organização de sua casa
Revise peça por peça de sua casa para verificar
o quanto está sendo usada, que porcentagem do
espaço está desorganizado ou ocupado com coisas
que não são utilizadas e faça um plano para um
uso mais racional da despensa, quartos, living,
escritório, garagem, corredores.
Decida por onde começar: faça uma lista do que
deve ser descartado
Por onde começar talvez essa seja a decisão mais
difícil de tomar. Estabeleça a diferença entre
objetos e papéis inúteis, sucata ou
quinquilharias sem qualquer possibilidade de
uso, eletrodomésticos sem concerto, móveis que
não irá mais usar. Desconfie de tudo o que você
guarda anos a fio e nunca utiliza ou de objetos
para os quais você não consegue vislumbrar
utilidade e que não têm valor afetivo. Faça uma
relação de tudo o que você guarda, toma lugar em
sua casa sem nenhuma evidência de que de fato
será necessário no futuro. Estabeleça uma
hierarquia entre os objetos em termos da aflição
que poderão provocar ao serem descartados e do
grau de inutilidade. Com relação nesses
critérios estabeleça as prioridades para
descarte preenchendo o espaço para exercícios ao
final do presente capítulo.
Comece pelo item que de acordo com a sua
avaliação subjetiva provocará menos aflição e
que provavelmente seja o que menos chance tenha
de no futuro ser necessário, para gradualmente
ir descartando os que provocam maiores níveis de
aflição. Comece por uma peça, eventualmente a
que está mais desorganizada. Ou então se você
armazena muito um tipo de objeto, por exemplo,
jornais velhos, ou tem muitas roupas que não usa
mais, pode decidir começar pelos jornais ou pelo
guarda-roupa, o que considera mais fácil,
deixando os demais para a semana seguinte.
Algumas regras simples
para o descarte
1. Marque uma data para fazer a faxina e o
descarte.
2. Você é a pessoa que irá decidir o que será
jogado fora e o que continuará sendo guardado.
3. Seus familiares poderão auxiliá-lo depois que
você tiver decidido. Convide-os para isso se
achar necessário e sentir que eles respeitarão
suas decisões.
4. Marcada a data, veja como fará o descarte e
providencie o que for necessário: sacos grandes
de lixo, caixas de papelão ou se necessário um
transporte. Eventualmente roupas e sapatos,
móveis ou eletrodomésticos sem uso podem ser
doados para instituições de caridade. Algumas
dessas instituições mandam buscar em casa, elas
mesmas, os objetos que você quer doar.
5. Procure organizar uma peça ou descartar um
item de cada vez, não fique se movimentando de
uma peça para a outra, ou de um objeto para
outro. Complete inteiramente um descarte
planejado para depois iniciar um outro.
6. Ao colocar os objetos nas caixas ou sacos,
não volte a olhar para eles, pensando se deve
mesmo ou não deve jogá-los fora ou verificando
se ainda pode aproveitá-los. De forma alguma os
acaricie, antes de colocá-los no lixo.
7. Não volte atrás. Jamais retire do lixo aquilo
que já havia decidido pôr fora. A ansiedade é
muito maior antes de colocar as coisas fora.
Depois passa!
8.
Relaxe.Depois de realizar o descarte, procure
distrair-se ouvindo música, lendo brincando no
computador ou planejando novos usos para o
espaço liberado. Saia de casa para dar uma
caminhada, ir ao cinema ou visitar um amigo, se
a aflição for muito grande. Interrompa quaisquer
ruminações sobre dúvidas em relação ao descarte,
se foi correto ou não, e em hipótese alguma abra
os sacos de lixo ou caixas de descarte para
revisar algum item.
Avalie a possibilidade de você ser ou não um
portador do TOC
• Preocupo-me demais com sujeira, germes,
contaminação, pó ou doenças.
• Lavo as mãos a todo o momento ou de forma
exagerada.
• Limpo ou lavo demasiadamente o piso, móveis,
roupas ou objetos.
• Tomo vários banhos por dia ou demoro
demasiadamente no banho.
• Não toco em certos objetos (corrimãos,
trincos de portas, dinheiro, etc.) sem lavar as
mãos depois.
• Evito certos lugares (banheiros públicos,
hospitais, cemitérios) por considerá-los pouco
limpos ou achar que posso contrair doenças.
• Verifico portas e janelas mais do que o
necessário;
• Verifico repetidamente o gás, o fogão, as
torneiras e os interruptores de luz após
desligá-los
• Minha mente é invadida por pensamentos
desagradáveis e impróprios, que me causam
aflição e que nem sempre consigo afastá-los.
• Tenho sempre muitas dúvidas, repetindo várias
vezes a mesma tarefa ou pergunta para ter
certeza de que não vou errar
• Preocupo-me demais com a ordem, o alinhamento
ou simetria das coisas, e fico aflito(a) quando
estão fora do lugar.
• Necessito fazer coisas de forma repetida e
sem sentido (tocar, repetir certos números,
palavras ou frases).
• Sou muito supersticioso com números, cores,
datas ou lugares.
• Necessito contar enquanto estou fazendo
coisas.
• Guardo coisas inúteis (jornais velhos, caixas
vazias, sapatos ou roupas velhas) e tenho muita
dificuldade em desfazer-me delas.
Caso tenha respondido positivamente a uma ou
mais dessas afirmativas, é provável que você
seja portador do TOC. Para o diagnóstico
definitivo, os sintomas devem causar desconforto
ou interferir de forma significativa nas suas
rotinas, no seu desempenho profissional, ou nas
suas relações sociais e ocupar pelo menos uma
hora por dia do seu tempo. Em caso positivo ou
se tiver dúvidas, discuta com seu médico.
Por que o TOC é importante
O TOC é considerado uma doença mental grave por
vários motivos: está entre as dez maiores causas
de incapacitação, de acordo com a Organização
Mundial de Saúde; acomete preferentemente
indivíduos jovens ao final da adolescência – e
muitas vezes começa ainda na infância, sendo
raro seu início depois dos 40 anos; seu curso
geralmente é crônico, e se não tratado, se
mantém por toda a vida O mais comum é que
ocorram flutuações na intensidade dos sintomas
ao longo da vida, raramente desaparecendo por
completo. Em aproximadamente 10% dos casos,
tendem a um agravamento progressivo, podendo
incapacitar os portadores para o trabalho e
acarretar sérias limitações à convivência com as
outras pessoas, além de submetê-los a um grande
e permanente sofrimento.
É muito comum que, na mesma família, várias
pessoas sejam acometidas. Sabe-se que, por
exemplo, diante de algum caso de TOC na família,
a chance de existir outro aumenta em quatro a
cinco vezes. Essa incidência aponta para um
componente familiar e possivelmente genético
dentre as suas diversas causas.
Os sintomas do TOC interferem de forma acentuada
na vida da família. A doença altera rotinas,
exige que a família se acomode aos sintomas. É
comum a restrição ao uso de sofás, camas,
roupas, toalhas, louças e talheres, bem como ao
acesso a determinados locais da casa. Outros
problemas típicos são a demora no banheiro e as
lavagens excessivas das mãos, das roupas e do
piso da casa. Os portadores do TOC normalmente
obrigam os demais membros da família a fazerem o
mesmo, mas os medos exagerados, os cuidados
excessivos e as exigências nem sempre são
compreendidos ou tolerados pelos demais. De modo
geral, essa diferença provoca discussões,
atritos, exigências irritadas no sentido de não
interromper os rituais ou de participar deles,
dificuldades para sair de casa e atrasos que
comprometem o lazer e as rotinas. Não raramente,
as atitudes e dificuldades de relacionamento
provocam a separação de casais ou a demissão de
empregos.
Quais as causas do TOC
A ciência tem conseguido esclarecer vários fatos
em relação ao TOC embora não consiga ainda
esclarecer suas verdadeiras causas.
Provavelmente concorrem vários fatores para o
seu aparecimento: de natureza biológica
envolvendo aspectos genéticos, neuroquímica
cerebral, lesões ou infecções cerebrais; fatores
psicológicos como a aprendizagem; certas formas
errôneas de ver e interpretar a realidade
próprias dos portadores do TOC, e até culturais.
Na medida em que as pesquisas avançam tem ficado
mais evidente a importância dos fatores de
natureza biológica. As evidências neste sentido
são o fato de o TOC ocorrer após traumatismos,
lesões ou infecções cerebrais; ser muito comum
que numa mesma família existam vários indivíduos
acometidos sugerindo uma predisposição genética.
Além destes fatos foi sobretudo importante a
descoberta de que determinados medicamentos que
estimulam de alguma forma a assim chamada função
serotonérgica cerebral reduzem os sintomas de
TOC. Este último fato nos faz pensar que possa
existir um distúrbio neuroquímico do cérebro
envolvendo o funcionamento das vias nervosas que
utilizam a serotonina (substância que existe
naturalmente no cérebro) para transmitir seus
impulsos.
Observou-se ainda que certas zonas cerebrais são
hiperativas em portadores de TOC, isto é,
funcionam mais do que em indivíduos normais (na
parte frontal - região periorbital, em regiões
mais profundas do cérebro - gânglios ou núcleos
da base). Esta hiperatividade tende a se
normalizar tanto com o tratamento farmacológico
bem como com a terapia cognitivo-comportamental.
Como se vê, são evidências, embora muito
genéricas, para a hipótese de que existe algum
tipo de disfunção neuroquímica no funcionamento
cerebral.
Existem, entretanto, fatos que a pesquisa não
conseguiu esclarecer: a resposta de muitos
pacientes aos medicamentos inibidores da
recaptação da serotonina é parcial ou muitas
vezes nula, e se desconhece o motivo. Além disso
ocorrem obsessões e compulsões em doenças
neurológicas como encefalites, associadas a
tiques - no assim chamado Transtorno de Gilles
de la Tourette, à febre reumática ou mesmo a
outras doenças nervosas ou psiquiátricas. São
fatos cujo esclarecimento continua desafiando os
cientistas do mundo inteiro.
Sabe-se ainda que fatores de natureza
psicológica influem no surgimento, na manutenção
e no agravamento dos sintomas de TOC. É bastante
comum que os sintomas surjam depois de algum
estresse psicológico; conflitos psíquicos
agravam os sintomas, e tem cada vez ficado mais
claras certas alterações no modo de pensar, de
perceber e avaliar a realidade por parte destes
pacientes. Eles tendem a supervalorizar a
importância dos pensamentos como se pensar fosse
o mesmo que agir; tendem a supervalorizar o
risco e as possibilidades de ocorrerem eventos
desastrosos (contrair doenças, perder
familiares, contaminar-se); tendem a
superestimar a própria responsabilidade quanto a
provocar ou prevenir eventos futuros; são
perfeccionistas, perdendo muito tempo com a
preocupação de fazer as coisas bem feitas e
evitar possíveis falhas ou imperfeições e
imaginam modificar o curso futuro dos
acontecimentos com a execução dos rituais
(pensamento mágico). Cada paciente pode
apresentar uma ou mais destas distorções, que
são mantidas mesmo as evidências sendo
contrárias a elas, ou apesar de não terem
comprovação na realidade.
Estes pacientes aprendem a usar rituais ou
outras manobras psicológicas como atos mentais e
a evitação como forma de aliviar a aflição que
normalmente acompanha as obsessões, e por este
motivo passam a repetí-los, mesmo que isto
significa estar mantendo a doença.Evitam também
de enfrentar seus temores até mesmo para
confirmar que são infundados, o que permitiria
livrar-se deles.
Supõe-se ainda que fatores ligados ao tipo de
educação (mais ou menos severa ou exigente,
incutindo culpa ou não), ao tipo de cultura
social e familiar, possam também influir sob a
forma de crenças e regras que regem a vida da
pessoa criando uma espécie de terreno propício
para o surgimento do transtorno. Por estes
motivos usualmente se associam aos medicamentos,
terapias psicológicas - a terapia
cognitivo-comportamental no seu tratamento.
Que tratamentos existem para o TOC
Os tratamentos mais efetivos no momento incluem
o uso de certos medicamentos, inicialmente
utilizados no tratamento da depressão, que
posteriormente se descobriu serem efetivos
também do TOC, e algumas técnicas psicoterápicas
chamadas de cognitivas e comportamentais. Os
medicamentos são efetivos para 40 a 60% dos
pacientes e são a primeira escolha,
principalmente quando, além do TOC, existem
outros problemas associados como depressão,
ansiedade, o que é muito comum. Também é usual
se iniciar com um medicamento quando os sintomas
são muito graves ou incapacitantes. O maior
problema que eles apresentam é o fato de
raramente eliminarem por completo os sintomas.
Além disso, com freqüência, provocam efeitos
colaterais indesejáveis, embora os mais modernos
sejam bem melhor tolerados.
Além dos medicamentos, utiliza-se no TOC uma
modalidade de terapia – a chamada terapia
cognitivo-comportamental (TCC), da qual foram
adaptadas algumas técnicas como para combater os
sintomas do TOC. Ao redor de 70% dos que
realizam a TCC podem obter uma boa redução ou
até a eliminação completa dos sintomas. Ela é
efetiva especialmente quando predominam rituais,
não existem outros problemas psiquiátricos
graves, e os pacientes se envolvem efetivamente
nas tarefas de casa, parte fundamental dessa
forma de tratamento. Estudos mais recentes têm
demonstrado que os resultados da terapia tem
sido Um problema de ordem prática é o fato de a
TCC ser um método pouco conhecido e pouco
utilizado em nosso meio. Por isso, este manual
tem como objetivo contribuir para a sua
divulgação entre os profissionais, os portadores
do TOC, seus familiares e a população em geral.
Como tanto os medicamentos como a terapia tem
suas limitações recomenda-se, na prática,
associá-los.
O tratamento farmacológico do TOC
É importante seguir a orientação do médico não
interrompendo o medicamento.
A psicoterapia no TOC
Um aspecto importante do tratamento do TOC é a
chamada terapia cognitivo-comportamental (TCC)
considerada um dos tratamentos de primeira
linha, juntamente com os medicamentos. A TCC
baseia-se na constatação de que, se o paciente
desafia seus medos, por exemplo, expondo-se às
situações que evita ou tocando nos objetos que
considera contaminados (exposição) e, ao mesmo
tempo, deixa de realizar os rituais de
descontaminação ou verificações (prevenção da
resposta), embora num primeiro momento a aflição
aumente, em pouco tempo ela tende a diminuir até
desaparecer por completo espontaneamente
(habituação). Repetindo tais exercícios os medos
de tocar em coisas sujas ou contaminadas, de
fazer verificações ou a necessidade de realizar
rituais acabam desaparecendo por completo.
Exposição + Prevenção da Resposta => Habituação
=> Desaparecimento dos sintomas
Exposição é o ato de tocar em objetos, móveis,
roupas, partes do corpo, freqüentar locais
evitados, ou de evocar frases, palavras,
números, imagens ou cenas normalmente mantidas
afastadas da mente, em razão do desconforto que
provocam.
Prevenção da resposta é o ato de abster-se de
realizar rituais ou compulsões, rituais mentais
ou quaisquer manobras destinadas a neutralizar a
ansiedade associada a obsessões ou à não
realização das referidas compulsões.
Além da exposição e da prevenção da resposta, a
TCC utiliza uma série de outras técnicas para
correção das crenças e pensamentos distorcidos
existentes no TOC com o objetivo de realizar a
assim chamada reestruturação cognitiva: treino
na identificação de pensamentos e crenças
distorcidas; correção através do questionamento
e busca de evidências quanto à sua sua validade,
experimentos comportamentais para testá-las,
exposição aos pensamentos ouvindo fitas gravadas
ou escrevendo, etc.
A terapia pode ser individual e mais
recentemente vem sendo desenvolvida uma forma de
tratamento em grupo. Além de comparecer às
sessões nas quais recebe uma série de
informações e realiza exercícios, o paciente
realiza também exercícios no seu próprio
domicílio ou local de trabalho.
Fonte:
TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) |