Ferrovias

Pernambuco foi o primeiro Estado do Nordeste e o segundo do Brasil a ter uma estrada de ferro: a ferrovia Recife-Cabo, inaugurada a 08 de setembro de 1855, com extensão de 31,5 km ligando a localidade de Cinco Pontas, no Recife, ao município do Cabo. À época, existia no Brasil apenas a Ferrovia Mauá, também uma pequena ferrovia construída em Petrópolis, Rio de Janeiro.

O projeto pernambucano, denominado "Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco", foi executado em várias etapas, com o objetivo de dotar o Estado de uma malha ferroviária para o transporte de mercadorias e passageiros. Após a etapa Recife-Cabo, vieram as linhas Ipojuca-Olinda-Escada e Limoeiro-Ribeirão-Água Preta-Palmares.

O trecho entre Palmares e Catende foi inaugurado em 1882. Em seguida, o trem chegou a Garanhuns (1887), Mimoso (1911), Arcoverde (1912) até atingir o município sertanejo de Salgueiro.

Durante várias décadas, o transporte ferroviário exerceu decisiva influência na economia do Estado. A partir da metade da década de 1960, as ferrovias pernambucanas ficaram praticamente abandonadas e acabaram dando lugar às rodovias.

Apesar do abandono, atualmente (novembro de 2004) vários trechos de trilhos ainda resistem ao tempo e encontramos também vários prédios (muitos deles em ruínas) que serviram de estações ao longo do percurso da ferrovi.

Inauguração e festa

A história da ferrovia em Pernambuco começa no dia 07 de agosto de 1852 quando o governo imperial concedeu, atravé do decreto 1.030, aos irmãos Mornay (os engenheiros anglo-brasileiros de origem francesa Edward e Alfred Mornay) o direito de construir e explorar durante 90 anos "um caminho de ferro" entre as cidades do Recife e o então povoado de Água Preta. Essa concessão era apenas a parte inicial de um projeto maior que estendia a estrada de ferro até as margens do Rio Sâo Francisco.

Como a concessão aos irmãos Mornay abrangia apenas a primeira parte do plano, a 13 de outubro de 1853 o governo assinou contrato (decreto 1.246) com a "Recife and São Francisco Railway Company", empresa com sede em Londres, que promoveu algumas alterações no projeto.

Uma dessas modificações foi a de que o trecho inicial da ferrovia não deveria dirigir-se a Água Preta, mas alcançar a confluência dos rios Una e Piaragi, podendo ser prolongado até as proximidades da Cachoeira de Paulo Afonso.

Estabelecidos os termos do negócio, a 07 de setembro de 1855 foi lançada a pedra fundamental e tiveram início as obras do que seria a primeira estrada de ferro pernambucana: um trecho de 31,5 km ligando a localidade de Cinco Pontas, no Recife, ao município do Cabo.

Esta seria a segunda estrada de ferro brasileira (pois a única existente à época era a Ferrovia Mauá, em Petrópolis, Rio de Janeiro) e tinha o seguinte percurso: Cinco Pontas-Afogados-Boa Viagem-Prazeres-Cabo.

A Estrada de Ferro Recife-Cabo foi inaugurada a 08 de fevereiro de 1858. Mas sua construção demorou mais do que o previsto no projeto, por conta de alguns atropelos. O principal entrave foi uma epidemia de cólera-morbo que se alastrou em Pernambuco em 1856, matando mais de 30 mil pessoas, inclusive a maior parte dos engenheiros vindos da Inglaterra. A catástrofe não só forçou a diminuição do ritmo das obras, como também provocou a total paralisação dos trabalhos por várias vezes.

Quando finalmente foi inaugurada, a ferrovia tornou-se uma das principais atrações dos recifenses e as viagens entre o Recife e o Cabo virou moda. Havia dois trens, um saindo do Recife às nove da manhã e outro às cinco da tarde e a passagem na 1ª classe custava quatro mil réis.

Os jornais publicavam anúncios da maravilhosa excursão "num cômodo banco da carruagem puxada por locomotiva possante, vendo pelas janelinhas canaviais e cajueiros, praias e coqueirais, mangues e colinas".

O primeiro trem pernambucano fez tanto sucesso que chegou a disputar público com os espetáculos apresentados no Teatro Santa Isabel, que na época havia reaberto depois de uma Temporada fechado para reformas. No cabo, o Grande Hotel passou a utilizá-lo em suas campanhas para atraírem turistas: oferecia hospedagem "com decentes e abundantes iguarias, belo banho, ótimo jardim". Tudo, como num verdadeiro pacote turístico, acompanhado de "uma excelente banda de música militar para os divertimentos da noite".

O trem que a 08/02/1858 partiu da estação de Cinco Pontas para o Cabo transportou, na sua viagem inaugural, mais de 400 pessoas. Após a tradicional bênção, o comboio partiu às 12 horas e trinta minutos após atingiu o ponto de chegada, onde uma multidão o aguardava.

Na chegada ao Cabo, o superintendente da "Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco", J.T.Wood, discursou louvando o imperador do Brasil pela empreitada. O presidente da província de Pernambuco saudou a Rainha Vitória. E a festa durou o dia todo.

Transnordestina

A Transnordestina é uma estrada de ferro para interligar o Nordeste (pelo centro da região) com o Sudeste do Brasil, com o objetivo de facilitar o escoamento da produção econômica nordestina. Consiste na construção dos trechos entre os municípios de Petrolina e Salgueiro (231 km) e Salgueiro/Missão Velha, no Ceará, (114 km), além da recuperação do trecho Salgueiro-Recife (382 km).

Os custos do projeto, em dados de 1998, eram de R$ 380 milhões. A idéia da Transnordestina vem do século XIX, quando se planejou a construção de uma estrada de ferro que interligasse a parte central do Nordeste com a Ferrovia Norte-Sul, a maior do Brasil.

Mas, só em 1987 o governo colocou a idéia no papel. Inicialmente, o projeto previa a construção de 867 kms de ferrovias, nos seguintes trechos: Petrolina/Salgueiro, Salgueiro/Missão Velha, Crateús/Piquet Carneiro e Senhor do Bonfim-Iaçu. Além da construção desses trechos, estava prevista a recuperação de 1.635 kms de ferrovias já existentes.

O custo desse projeto era de US$ 951,3 milhões, mas praticamente nada foi feito. Apenas durante o governo do presidente Itamar Franco os trabalhos tiveram início: foram gastos US$ 8 milhões (cerca de 1% do orçamento inicial) e logo as obras foram interrompidas em meio a denúncias de superfaturamento.

Promessas

A construção da Transnordestina já foi anunciada inúmeras vezes pelo governo, mas, infelizmente, até hoje tudo ficou apenas no papel. Veja, a seguir, algumas dessas promessas:

1958 - Após o "Encontro de Salgueiro" (quando fora lançada a base de criação da Sudene), o governo federal decidiu autorizar a construção do ramal ferroviário entre os municípios de Serra Talhada e Salgueiro, que deveria ter continuidade com a implantação de outros trechos da ferrovia ligando os dois municípios pernambucanos à Missão Velha e Aurora, no Ceará. A obra é parte de uma idéia do século XIX, de construir uma estrada de ferro para ligar a parte central do Nordeste à ferrovia Norte-Sul, a maior do Brasil. Além da autorização, nada foi concretizado.

1987 - O Ministério dos Transportes coloca no papel o prejeto da Transnordestina, prevendo a construção da estrada de ferro nos trechos: Petrolina-Salgueiro, Salgueiro-Missão Velha, Cratéus-Piquet Carneiro e Senhor do Bonfim-Iaçu. Além disso, seriam recuperados 1.635 km de vias permanentes. O custo do projeto anunciado era de US$ 951,3 milhões. O projeto ficou no papel.

1991 - Técnicos da Rede Ferroviária Federal e do Departamento Nacional de Transportes Ferroviários vão a Petrolina, visitar obras do que seria a primeira etapa da Transnordestina, iniciadas nos anos anteriores, correspondentes aos trechos ligando Petrolina a Salgueiro (326 km) e Salgueiro à Missão Velha (113 km), além da recuperação do trecho Salgueiro-Suape (637 km). Na ocasião, os técnicos anunciaram que essa primeira etapa seria concluída em quatro anos. Novamente são suspensas pelo governo federal, sem que um metro de trilho fosse implantado.

1998 - O governo federal privatiza a malha ferroviária do Nordeste, passando seu controle para a Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), e anuncia que, agora, nas mãos da iniciativa privada, a Transnordestina finalmente será implantada. Vamos ver quando termina.

fONTE: Pernambuco A/Z