Infecção
provoca febre repentina e dores intensas nas
articulações.
Vírus transmitido por mosquito já foi contraído
por 20 brasileiros no exterior.
A infecção pelo
vírus chikungunya provoca sintomas parecidos com
os da dengue, porém mais dolorosos. No idioma
africano makonde, o nome chikungunya significa
"aqueles que se dobram", em referência à postura
que os pacientes adotam diante das penosas dores
articulares que a doença causa.
Em compensação,
comparado com a dengue, o novo vírus mata com
menos frequência. Em idosos, quando a infecção é
associada a outros problemas de saúde, ela pode
até contribuir como causa de morte, porém
complicações sérias são raras, de acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS).
Este ano, já houve
20 casos da infecção notificados no Brasil desde
maio, de acordo com o Ministério da Saúde. Mas,
até o momento, todos são importados: 19
pacientes contraíram o vírus no Haiti e um, na
República Dominicana. Isso significa que não há
evidências de que o vírus esteja circulando
entre os mosquitos do país.
Segundo o
secretário de Vigilância em Saúde do Ministério
da Saúde, Jarbas Barbosa, a maioria dos casos
são de pessoas que fazem parte da missão
brasileira no Haiti: soldados, missionários e
profissionais da saúde. Os pacientes são dos
estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Amazonas,
Rio Grande do Sul e Paraná. Saiba mais detalhes
sobre a doença:
Como
as pessoas pegam o vírus?
Por ser transmitido pelo mesmo vetor da dengue,
o mosquito Aedes aegypti, e também pelo
mosquito Aedes albopictus, a infecção
pelo chikungunya segue os mesmos padrões
sazonais da dengue, de acordo com o
infectologista Pedro Tauil, do Comitê de Doenças
Emergentes da Sociedade Brasileira de
Infectologia (SBI).
O risco aumenta,
portanto, em épocas de calor e chuva, mais
propícias à reprodução dos insetos. Eles também
picam principalmente durante o dia. A principal
diferença de transmissão em relação à dengue é
que o Aedes albopictus também pode ser
encontrado em áreas rurais, não apenas em
cidades.
Onde
o vírus está circulando?
De acordo a OMS, o vírus já vinha circulando nos
últimos anos pela África e pela Ásia,
principalmente no subcontinente indiano. Mais
recentemente, foram identificados casos na
Europa. Em dezembro do ano passado, a doença
chegou ao Caribe – a primeira ocorrência de
surto nas Américas. Até o momento, não existe
registro de nenhum caso transmitido dentro do
Brasil.
O
chikungunya tem subtipos diferentes, como a
dengue?
Diferentemente da dengue, que tem quatro
subtipos, o chikungunya é único. Uma vez que a
pessoa é infectada e se recupera, ela se torna
imune à doença. Quem já pegou dengue não está
nem menos nem mais vulnerável ao chikungunya:
apesar dos sintomas parecidos e da forma de
transmissão similar, tratam-se de vírus
diferentes.
Quais são os sintomas?
Entre quatro e oito dias após a picada do
mosquito infectado, o paciente apresenta febre
repentina acompanhada de dores nas articulações.
Outros sintomas, como dor de cabeça, dor
muscular, náusea e manchas avermelhadas na pele,
fazem com que o quadro seja parecido com o da
dengue. A principal diferença são as intensas
dores articulares
Em média, os
sintomas duram entre 10 e 15 dias, desaparecendo
em seguida. Em alguns casos, porém, as dores
articulares podem permanecer por meses e até
anos. De acordo com a OMS, complicações graves
são incomuns. Em casos mais raros, há relatos de
complicações cardíacas e neurológicas,
principalmente em pacientes idosos. Com
frequência, os sintomas são tão brandos que a
infecção não chega a ser identificada, ou é
erroneamente diagnosticada como dengue.
Segundo Barbosa, é
importante observar que o chikungunya é "muito
menos severo que a dengue, em termos de produzir
casos graves e hospitalização".
Tem
tratamento?
Não há um tratamento capaz de curar a infecção,
nem vacinas voltadas para preveni-la. O
tratamento é paliativo, com uso de antipiréticos
e analgésicos para aliviar os sintomas. Se as
dores articulares permanecerem por muito tempo e
forem dolorosas demais, uma opção terapêutica é
o uso de corticoides.
De acordo com
Tauil, da SBI, os serviços de saúde brasileiros
já estão preparados para identificar a doença.
"Provavelmente quem vai receber esses casos são
reumatologistas. Já escrevemos artigos voltados
para esses profissionais, orientando-os a ficar
atentos a pessoas provenientes de áreas em que
há transmissão", diz o infectologista. Pessoas
que apresentarem os sintomas citados e estiverem
voltando de áreas onde existe a transmissão do
vírus, como o Caribe, devem comunicar o médico.
Apesar de haver
poucos riscos de formas hemorrágicas da infecção
por chikungunya, recomenda-se evitar
medicamentos à base de ácido acetilsalicílico
(aspirina) nos primeiros dias de sintomas, antes
da obtenção do diagnóstico definitivo
Como
se prevenir?
Sobre a prevenção, valem as mesmas regras
aplicadas à dengue: ela é feita por meio do
controle dos mosquitos que transmitem o vírus.
Portanto, evitar
água parada, que os insetos usam para se
reproduzir, é a principal medida. Em casos
específicos de surtos, o uso de inseticidas e
telas protetoras nas janelas das casas também
pode ser aconselhado.
Quando surgiu o vírus?
O vírus chikungunya foi identificado pela
primeira vez entre 1952 e 1953, durante uma
epidemia na Tanzânia. Mas casos parecidos com
essa infecção – com febres e dores nas
articulações – já haviam sido relatados em 1770.
Na Ásia, a doença
foi detectada pela primeira vez em 1960, durante
um surto na Tailândia, e durante as décadas de
1960 e 1970, na Índia. Em 2007, foram
identificados os primeiros casos de transmissão
na Europa, no norte da Itália. Em dezembro de
2013, o vírus finalmente chegou à América,
quando casos foram identificados na ilha de São
Martinho (ou Saint-Martin), nas Antilhas.
Atualmente, existe um surto da doença em vários
países do Caribe.
Que
medidas preventivas o governo brasileiro adotou?
Desde o ano passado, quando foram confirmados os
primeiros casos de chikungunya no Caribe, o
Ministério da Saúde começou a elaborar um plano
de contingência do vírus para o Brasil. "Existe
a possibilidade de transmissão em todo local que
há mosquitos vetores", explica o secretário
Barbosa.
O plano consiste
em promover uma redução drástica da população de
mosquitos nos arredores de onde os casos são
identificados e orientar médicos, assistentes e
profissionais de laboratórios de referência
sobre como reconhecer um caso suspeito.
Atualmente, seis laboratórios do país são
capazes de fazer o teste para detectar o novo
vírus.
Em 2010, o Brasil
já tinha recebido três casos da doença do
exterior: dois surfistas que foram infectados na
Indonésia e uma missionária, na Índia. |