Cinomose: entenda o que é, quais
os sintomas e como proteger os cachorros desse
mal altamente mortífero
Os sintomas são confusos e podem levar a erros
de diagnóstico, a doença é pouco conhecida e não
existem muitas campanhas focadas em sua
prevenção ou na importância da vacinação. Esses
fatores, combinados à força do vírus CDV (Canine
Distemper Vírus), fazem da cinomose uma das
doenças caninas com maior taxa de mortalidade —
85%.
A veterinária Maria Carolina Carvalho Mota e
Silva explica que a cinomose é uma doença viral
cuja gravidade depende do órgão afetado. “O
vírus é muito inespecífico, então tudo depende
de onde ele vai atacar”, completa. A veterinária
explica que o CDV é um vírus oportunista, atinge
os animais que se encontram com o sistema
imunológico enfraquecido, o que ocorre com mais
frequência em filhotes e naqueles de idade
avançada.
A cinomose é sintomática e caracterizada por
fases. Os sintomas iniciais são menos
preocupantes e podem ser confundidos com um
mal-estar passageiro, o que geralmente acontece,
resultando em um diagnóstico tardio, no qual as
chances de recuperação são reduzidas. Os
primeiros sistemas a serem atingidos são o
respiratório e o digestivo — daí os episódios de
diarreia, vômitos, espirros e secreção nasal e
ocular. Uma vez subestimado, o quadro evolui
rapidamente para febre alta, pústulas e
pneumonia.
Em seu estágio mais avançado, a cinomose atinge
o sistema nervoso do animal. Os sintomas se
caracterizam por tiques nervosos, espasmos
musculares, comportamentos estranhos, como andar
em círculos, convulsões e coma. Uma vez nesse
estado, há poucas chances de reversão e, quando
isso ocorre, o pet costuma ficar com sequelas.
O veterinário Gustavo Venezian Rovai explica que
o foco do tratamento é diminuir o sofrimento da
mascote. Quando os sintomas são tratados de
forma isolada e sem o diagnóstico correto, o
problema volta com maior intensidade. Diante
dessa perspectiva, o pode ser feito? Segundo
Maria Carolina, a única esperança reside no
diagnóstico precoce. Se a cinomose for
confirmada, deve ser ministrado um tratamento
que não debilite ainda mais o cão, com remédios
destinados a subir a imunidade. A partir desse
momento, conta-se muito com a força do bicho.
Infelizmente, a sobrevida dos infectados é
curta. “É difícil reverter o quadro de cinomose”,
reconhece Maria Carolina. Em geral, é feito um
controle dos sintomas, o que permite que o cão
tenha certa qualidade de vida enquanto o mal se
instala. Esse foi o caso de Lobo, diagnosticado
tardiamente, com apenas 3 meses de vida. Os
estudantes de direito Bianca Ramos Coutinho, 26
anos, e seu namorado Victor Hugo Diogo Barboza,
26, perceberam que o filhote de pastor belga
estava fragilizado logo após comprá-lo. Ele
apresentava diarreia, mas os donos pensaram
tratar-se de algum tipo de verminose.
O casal conta que, mesmo seguindo o tratamento,
não havia sinal de melhora. Um dia, Lobo sofreu
uma convulsão, o que os alarmou. Retornaram ao
veterinário para que mais exames fossem feitos.
A jovem conta que chegou a suspeitar de
epilepsia e, para checar a genética de Lobo,
ligou para a criadora que o vendeu. Esta negou
que o cão tivesse qualquer problema de saúde e
não deu mais informações.
Quando o diagnóstico de cinomose se confirmou,
começou uma luta para que o filhotinho
conseguisse se fortalecer e vencer a doença.
Lobo chegou a ficar internado, mas seu sistema
neurológico já estava comprometido — o filhote
faleceu com apenas 5 meses de vida. “Foi um mês
de sofrimento, a doença é muito instável, você
não sabe o que vai acontecer, se ele conseguiria
reagir”, lembra Bianca.
A jovem explica que o cão era oficialmente de
Victor, mas que fazia parte da vida dos dois,
uma vez que estavam sempre juntos. “Acompanhei
tudo, é muito sofrido”, lamenta. Bianca conta
que ela e o namorado compraram Lobo em uma feira
e acredita que as condições nas quais os cães
ficavam expostos favoreceu o contágio da doença,
que se dá pelo ar ou pelo contato direto entre
os animais. “Eles ficavam todos juntos nas
gaiolinhas, amontoados. Um cão doente pode
contaminar muitos outros”, alerta.
A preocupação da estudante é bem fundamentada,
confirma a veterinária Maria Carolina. Ela
explica que os cães filhotes são muito
vulneráveis, pois o sistema imunológico ainda
está se formando, e que, mesmo com as vacinas em
dia, o contato com humanos e com outros cães
deve ser evitado até os 4 meses de vida, medida
que poderia ter poupado Lobo.
Apesar da triste história vivida com Lobo, o
casal acabou recebendo uma benção no mesmo dia
em que perdeu o pastor belga. Bianca e Victor
decidiram fazer uma visita ao Centro de Controle
de Zoonoses do Distrito Federal, lá conheceram
Aika. A cadela da raça cane corso seria
sacrificada devido a um diagnóstico de
leishmaniose, mas, em conversa com o antigo
dono, o casal o convenceu a fazer um teste mais
específico, que retira material da medula do
animal, dificultando a ocorrência do falso
positivo. Por fim, Aika não tinha leishmaniose e
acabou sendo adotada por seus anjos da guarda,
que perderam Lobo mas ganharam uma nova amiga.
A doença, por mais devastadora, pode ser
prevenida. O esquema vacinal deve ser levado a
sério e doses V10 e V8, que combatem,
respectivamente, 10 e 8 doenças diferentes,
entre elas a cinomose, devem ter suas doses
reforçadas ao longo da vida do pet.
Outro cuidado importante ressaltado pelo
veterinário Gustavo Rovai é que proprietários
que perderam cães para a cinomose devem esperar
um determinado período antes de adquirir um novo
pet, principalmente se for filhote. No entanto,
uma higienização do local diminui esse período,
que pode variar de alguns meses a um ano. “É
importante fazer a desinfecção, a limpeza
diminui muito esse tempo de espera”, esclarece
Gustavo.
Fonte: Saúde plena |